[CL] Colhendo os Frutos

Durante a viagem de trem, lá atrás, aproveitei o meio tempo no relaxamento dos vagões para me dedicar à saúde da Corsola e usar um Revive para recuperar parcialmente suas energias, seguido de uma aplicação rápida de uma Potion para complementar a ação de cura. Eu não sabia quanto o Centro Pokémon de Ylium cobrava por consulta e também não queria esperar tanto, já que Ola estava necessitada. Enfim, a viagem de Limford pra cá foi muito tranquila, aproveitei a ansiedade que me deixava inquieto para postar uns vlogs na minha página do Dexit.

Chegamos em Ylium por volta de meio-dia e antes que o ronco de fome do meu estômago pudesse reclamar pela ausência de comida, me peguei boquiaberto ao sair da estação e estar diante de um cenário que até então eu só conhecia através da mídia. A cidade... o verde... como pode?! É uma comunhão incrível e difícil de acreditar nos tempos de hoje, ainda mais pra mim que vim de uma metrópole tão puramente tecnológica. Não me cansava de olhar para cima e espreitar os olhos contra os raios de sol procurando por reflexos que evidenciassem a peculiar doma translúcida que cobria a cidade. E ainda bem que não foi só eu, mas o resto da equipe também agia feito besta perambulando pelas ruas, respirando e inspirando a todo instante o maravilhoso ar límpido daqui; de fato, ríamos a toa e acabamos virando alvo de olhares curiosos e risos de deboche.

— Bem vindos a Ylium meus camaradas! — Bradou Drew, envolvendo quem estivesse a sua frente com um abraço. — Caramba, como é bom estar em casa!

Era muito bom vê-lo feliz assim, certamente que ele vai querer visitar a sua família quando tiver oportunidade e devo ficar ciente de que serei um convidado confirmado. Contudo, não era a hora de pensar nisso... Já chegamos em Ylium e de acordo com as instruções deixadas pela nossa treinadora, tínhamos que encontrar o hotel ao qual ela já mandou a localização. Confesso que suei frio, pensei: Se a gente não teve direito a transporte pra chegar até aqui, o que me garante que não pagaremos por nossa hospedagem? Só pensei na pouca quantidade de Bitcoins que tinha para arcar com essa responsabilidade, mas bem, não vou julgar previamente, quando chegar lá resolvo isso.

A equipe seguiu unida até a localização exata do hotel, no caminho, impressionantes construções mescladas ao verde vívido da natureza, máquinas com sistemas não poluentes, esteiras automáticas para pedestres e uma quantidade assustadora de anúncios e avisos sobre os cuidados com o meio ambiente. Ecios era o nome mais visto na publicidade daqui, me lembro de ter lido algo sobre essa empresa pelo Dexit. Por falar nele, a Gentec notificou sobre os dois vencedores de seu recente evento, coincidentemente um deles era de Limford, uma moça das mídias chamada Lory Cooper - esse nome não me é estranho... - o outro era daqui de Ylium, uma inteligência artificial, ambos ganharam espécies de pokémon muito raros e singulares. Eu queria estar mais antenado sobre isso, mas os treinos das últimas semanas têm me tirado um pouco o foco das redes.

Quando enfim chegamos ao local destinado não nos surpreendemos com o que estava na nossa frente. A julgar pelas quadras afastadas do centro e as estruturas mais simplórias que aquelas anteriormente vistas, é lógico que o hotel escolhido não seria de luxo. A primeira vista, um prédio largo e comum de dois andares, apesar disso, tinha um espaço adequadamente extenso para o seu tipo de estabelecimento. Não era um hotel cinco estrelas, mas transmitia uma sensação boa, sabe? Acolhedora. Logo na entrada fomos recepcionados por um homem que aparenta ter seus 35 a 40 anos, cabelos ruivos jogados pra trás e usando roupas talvez um pouco confortáveis demais. Ao reparar que estávamos chegando, jogou rapidamente o "cigarro" no chão e numa atitude frustrada pisoteou e ciscou pra longe.

— Esse cara certamente não é daqui... — Sussurrei próximo ao Drew que riu em resposta.

— Ah haha! Bem vindos meus bons atletas! — Ele nos recebia com os braços abertos e com singelos movimentos tentava afastar qualquer vestígio do que estava fumando. Acontece que pra cada lufada que seu projeto de quimono ou roupão de banho - que seja - dava, meio que revelava parte de sua roupa íntima pra nós. A essa altura, Drew já não conseguia conter os risos frouxos e me contagiava também. — O hotel "Brisa Luz" tem o prazer de recebê-los aqui. Por favor, entrem e fiquem a vontade...

"Brisa Luz"? Até o nome é cafona, pior foi perceber que o neon com o nome do estabelecimento na sacada estava errado, apenas o nome "Brisa" se mantinha aceso e abaixo dele estava escrito "do Mar". Então era pra ser "Brisa do Mar"? Numa cidade onde nem mar tem? Minha nossa... Essa estadia promete. Assim que entramos, o curioso ambiente rústico, embora não seja algo que atendesse as minhas expectativas, também não me decepcionava. Acho que fiquei acostumado a esse estilo na ala da divisão D na sede da Raiders. O assoalho amadeirado estalava conforme caminhávamos, a decoração remetia ao vintage e como de praxe, entre os cômodos muitas plantas de diferentes tipos completavam a ornamentação. Ok, era brega, mas eu não conseguia desgostar. O homem nos apresentava tudo, o espaço estranhamente não tinha muitos hóspedes, vez ou outra víamos caras curiosas para saber sobre nós. Por fim, quando terminamos o tour chegando numa área arbórea atrás do prédio, ele finalmente se apresentou e lançou para a equipe algo que não esperávamos: um desafio.

— Rapazes, o hotel está com a sua única suíte vaga e como não recebemos hóspedes tão "ilustres" há um bom tempo, conversando com a responsável de vocês, resolvi deixá-lo disponível... — Por um instante a notícia de Berry (como foi apresentado) cantou aos nossos ouvidos. Poderia um hotel assim ter uma suíte minimamente luxuosa? Para que não houvesse mais dúvidas, ele nos levou lá para ver. De fato, comparado aos outros quartos, a suíte era muito convidativa, tinha o dobro do tamanho de quarto comum, uma cama grande, alta e confortável, um banheiro anexado com ofurô e serviços exclusivos que sequer foram explicados, mas ele fez questão de frisar isso. — No entanto, somente um de vocês vai ficar com a suíte. Para conquistar a chave, vocês só precisam encontrar o meu Sandshrew ao longo de todo o território do estabelecimento num prazo limitado de 30 minutos. — Concluiu com um sorrisinho sádico de canto de boca, em seguida projetou um cronômetro através do seu relógio de pulso.

Sem demora, o tempo começou a rodar.