Talvez não tenha sido uma boa ideia depender da própria memória para lidar com coordenadas.

Eventualmente, o Metang precisou pousar para conseguir recalibrar toda a energia que já havia gastado voando por longos e longos minutos. Para além disso, haviam chego em um ponto da rota em que o frio era tamanho que alguns flocos chegavam a se concentrar entre as articulações do traje. Seu organismo não tinha nenhum sinal de estar perto de desligar como anteriormente, o que lhe garantia certa segurança. Foi em cima de um tipo de cristal em formato cilíndrico titânico que pousaram, com certo cuidado para que não derrapassem. O Metang fixou suas garras na superfície do minério púrpuro, fechando seus olhos conforme se concentrava.

— E se eu… — o usuário do traje lembrou-se daquelas baterias externas que carregava consigo. Ao mentalizar uma delas, ela se ejetou na altura de sua coluna, pela região da nuca. Um tubo de pura energia. Seu olhar reconheceu a embalagem como um item clássico, Cell Battery, mas modificado e com algumas siglas adicionais. Havia um marcador da E.V.O em uma das partes. Que curioso. Sem mais delongas, se ajoelhou, aproximando o cilindro que brilhava em um azul neon do Pokémon que parecia entrar em um transe. — Vamos, isso deve servir pra você também, não?

O Metang abriu seus olhos e, quase que imediatmente, se lançou no objeto, o perfurando com o seu chifre dianteiro. Em instantes, a criatura brilhou naquele mesmo tom azulado, absorvendo a energia estocada no item. Então, sobrou para o rapaz apenas pegar novamente o cilindro e o guardá-lo de onde havia saído, observando o Pokémon que tanto o havia ajudado até agora se reestabilizar. Seus olhos se encontraram e uma tentativa de diálogo foi estabelecida. Na falta de uma comunicação verbal de um dos lados, restava apenas… um olhar de compreensão. Ou a tentativa de um.

— Sei que você não vai falar. Pelo menos não no meu idioma. Mas… por qual motivo está me ajudando tanto?

O Metang manteve-se em silêncio.

— É, já esperava essa resposta. Mas deve ter a ver com você também né? Deve ser algo importante, ou sei lá.

Novamente, o vazio.

Desde que havia eclodido daquele ovo tóxico do pântano, não teve uma vez em que precisou interagir com um outro ser humano: mesmo Mira, embora simulasse uma mulher, era apenas um programa que operava a nave, como uma espécie de inteligência artificial. Como seria com outros parecidos consigo? Aliás, existia alguém parecido? Talvez os outros protocolos pudessem auxiliar nisso. Será que mais algum deles havia passado por esse mesmo problema? Bem… 10 anos haviam se passado desde que tudo ocorreu e agora a única temática que podia pensar era justamente a que se apegar — qual propósito do seu renascer, e onde poderia buscar respostas de uma série de memórias corrompidas?

E… essa sensação de falha? Esses lapsos de memórias de ser atingido constantemente… tudo deve significar algo.

— Bom, eu espero que o Titânico consiga me ajudar nessa. Dos que Mira me mostrou, parece ser o mais acessível, certamente. Como está se sentindo, Metang? — A criatura voltou a levitar, se desprendendo do minério. — Muito bem. Agora que parei pra pensar, acho que é por ali ó — apontou para o horizonte. Por detrás da selva de cristais púrpuros cobertos por flocos de neve, havia uma espécie de mudança de bioma: como se todo esse púrpuro cristalizado fosse dando espaço a um tom mais… terroso. Na verdade, enquanto pensava, paralelamente o traje havia traçado algumas coordenadas a respeito das localidades ao redor com base em uma captura visual dos horizontes observados. Talvez, apenas talvez, estivesse começando a aprender como usar essa coisa. — De volta ao trajeto.

Então, como dito, retornou ao topo de MG-250 que, por sua vez, levitou em direção ao destino apontado.