// Halo

Anteriormente: Cap-10 | Versículo. 1

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A dupla seguia apreensiva numa sala de espera aguardando o chamado de Salatiel para a reunião. Krieg e Ely já estavam presentes assim que chegaram da missão anterior, diferente de Bruno que demorou quase uma hora para finalmente aparecer. Subjugado pelos olhares curiosos de seus parceiros, o homem sentou-se completamente calado e emburrado - ao que parece não obteve êxito no seu objetivo de capturar o chefão da "Trupe do riso". O silêncio fazia Krieg ficar inquieto, involuntariamente batia com as mãos em partes do seu corpo para produzir um som em sincronia com os pés batendo no chão, em poucos minutos algo que parecia quebrar a tensão consequentemente provocava ainda mais.

— Porra, Krieg! Será que dá pra PARAR-- — Manifestou Bruno em plena fúria que ecoava pelo salão.

Ao mesmo passo em que reclamava, a porta do escritório subitamente se abria depois de tempos em quietude. De lá saia uma moça tão furiosa quanto o próprio Headshot. Era a jovem Maddison Grey e como de costume não tinha papas na língua, expressava-se de maneira agressiva insinuando que muito provavelmente a sua conversa com Salatiel não tivesse sido do seu agrado.

— ...Ah sim! Dá próxima vez vê se me avisa antes de ME MANDAR PRA PORRA DO ESPAÇO! — Finalizou aos berros e fazendo questão de fechar a porta com força. O trio na sala de espera ficou muito assustado ao testemunhar a cena que ultrapassou a tensão de antes. O marmanjo do Bruno até tentou aliviar a pressão galanteando a moça.
— Oi Mad... — Sorriu pretensiosamente o galã;
— Vai se fuder, Bruno. — Ela retrucou friamente ao cumprimento, em seguida se retirou apressadamente.

Enquanto Krieg ria do seu colega e Bruno resmungava, Salatiel surgia pela porta do seu escritório e com um tom não muito agradável convidava-os a entrar. A medida em que adentravam o salão perfeitamente amplo e quadricular, as luzes no seu interior iam diminuindo a intensidade deixando o ambiente mais obscuro e consequentemente mais tenso. Todos os sinais indicavam que essa reunião seria mais um pretexto para um sermão; e com razão, afinal de contas a última missão quase deu ruim por imprudência da equipe. Enfim, Salatiel desaparecia na escuridão, mas logo reaparecia sentado em sua poltrona sob os holofotes: — Por favor, sentem-se. Cada movimento seu era regido com elegância, com apenas um movimento de sua mão direita trouxe automaticamente assentos para trio. Sua postura e seu tom mudavam, parecia estar disposto a conduzir essa conversa educadamente e com a exímia diligência formidavelmente atrelada ao seu nome.

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— Então, parece que as coisas saíram do controle... de novo.

O androide jazia sentado sobre sua poltrona com muita classe enquanto encarava as três figuras a sua frente. De modo a acompanhar o silêncio, Salatiel começou a brincar com uma moeda aleatória passando-a entre os dedos com maestria e celeridade. Um gesto inocente, mas que fazia o trio engolir a seco toda a tensão que preenchia aquele espaço.

— Há anos nesse serviço que não vejo uma cláusula de "Versículo.1" sendo ativada. — Pausou a voz e a distração com a moeda, em seguida voltou o olhar completamente para Krieg — Agente ARK.0-11, você sabe que esta é uma cláusula rara e muito cara, não é mesmo?
— Érr.. Bo-- — Só que Salatiel não queria uma resposta;
— Excelente. — Interrompeu — Presumo que também saiba das complicações jurídicas que lidamos quando ela é ativada, e pior, quando executada com sucesso. Foi por muito pouco que não perdemos aquela encomenda. Vocês chegaram aqui restando apenas 45 segundos para que ela se extinguisse...

Novamente Krieg tentou se pronunciar, só que o corte de Salatiel foi mais severo dessa vez.

— BASTA! — "Suspirou" um pouco e prosseguiu: — Boa parte das ações conjuntas de vocês sempre terminam nessa sala com o mesmo sermão. Francamente, trabalhamos por anos com esse modelo e depois de muito tempo achei que não teríamos mais outra equipe desequilibrada, mas eu me enganei.
— "Outra equipe?" — Pensou o ciborgue de dreads, intrigado com o significado disso.
— Vocês dois! — Salatiel apontou para Krieg e Bruno deixando-os atentos e apreensivos — Agentes ARK.0-10 e ARK.0-11, vocês como em todas as outras vezes foram a falha na matriz. — Levantou-se e começou a caminhar entre os assentos deles ao passo em que simultaneamente apresentava filmagens, imagens e gráficos numa tela suspensa e de alta tecnologia. Os dados apontavam os erros mais comuns da dupla, tal como seus defeitos e sugestões de "aprimoramento" - como se máquinas fossem;
— ARK.0-11, não é a primeira vez que a sua mania de limpeza compromete o foco da missão. Isso te distrai facilmente. Sua irresponsabilidade colocou em risco a recuperação da encomenda e desorganizou a operação. Quanto a você, ARK.0-10, foi imprudente e inconsequente com o objetivo da tarefa. Sua audácia custou tempo e planejamento, para além, é claro, de não ter sido solicitado a executar mais do que foi preestabelecido. Sugiro que exercite o seu autocontrole.

Quando finalmente seu olhar chegou à Ely, o inesperado (ou talvez não);

— ARK.0-12, sem comentários. Parabéns por ter salvado a operação. Está dispensada. — Antes mesmo que ela saísse do escritório ele retomou sua atenção para lembrá-la: — A propósito, descanse, como exigido pela senhorita existe outro serviço sobre sua tutela dentro de uma hora.
— Hm! — Assentiu a jovem.
— Bom, quanto a vocês dois, ARK.0-10 e ARK.0-11 estão suspensos de suas atividades por duas semanas. Durante esse período ficarão sem acesso à sede, equipamentos, distintivos e ao respectivo sistema SHED. Recomendo fortemente que procurem por ajuda profissional para tratar de vossos desequilíbrios pessoais. Deixarei este contato como sugestão.

Enquanto entregava o sugestivo cartão para os dois, Salatiel também usava uma tecnologia para "desativá-los" pelo tempo determinado na punição. Ele complementou dizendo que, como de costume, não é famoso por aplicar sentenças, mas que dessa vez foi necessário. Por fim, ambos os agentes se retiravam do escritório, Bruno mais apressado que Krieg, talvez por não suportar o peso da culpa ou não assumir isso. O ciborgue, no entanto, aproveitou os últimos momentos para resolver um assunto pendente antes de partir para a "folga" forçada.


O laboratório de engenharia se encontrava a poucos corredores dali. Famoso pela sua localização mais obscura no prédio, o lugar era liderado por uma I.A. tão abstruso quanto o próprio ambiente. Na entrada, Krieg percebeu que ainda tinha acesso, mas não por muito tempo, precisava ser rápido. Era estranho que um laboratório de engenharia fosse tão silencioso. Os funcionários lá dentro atuavam de forma automotiva, sem descanso e expressão, seja máquina ou humano. Depois de tantos anos já devem estar acostumados, ou então nunca ouviram falar em greve. Enfim, seu percurso o direcionava a fonte de inteligência dali, B3.L1.4L. O androide de aspecto peculiar movia-se depressa durante a execução do seu ofício. Cada movimento seu levantava uma silhueta perceptível apenas pelo tenebroso brilho nas orbes do seu olhar. Buscando formas de chamá-lo, Krieg bateu com a sua espada numa quina a fim de produzir algum barulho. Como num lampejo, imediatamente aquele olhar brilhante e rubro fazia-se presente diante de si revelando através das sombras a figura do engenheiro Belial.


— Era ... só ... chamar ... — Balbuciou ainda com o olhar fixado em Krieg enquanto com suas mãos mecânicas segurava a espada fortemente impedindo a procedência do incômodo.