Longos minutos de caminhada pelo mangue precederam o momento em que finalmente estavam de volta à terra firme. Distante, a pirotecnia esmeralda tornava-se cada vez mais controlada. Com o fenômeno químico tendo ocorrido, o ecossistema do pântano entrou em uma espécie de colapso térmico e climático. Em instantes, uma chuva torrencial iniciou-se — gotículas esverdeadas que, ao se chocarem com o solo, dissipavam-se em uma espécie de gaseificação de mesma cor. Com um pouco de análise de alguém experiente, seria possível concluir que tratava-se de um subproduto da explosão ao ser emitida para os níveis superiores da atmosfera.

Um som foi captado pelos seus sensores. Desesperançoso, sabendo que provavelmente tratava-se de mais alguma explosão verde infindável do pântano, largou-se no chão antes de observar o horizonte atrás de forma despretensiosa. Seus olhos captaram algo que, até então, não havia vislumbrado. Em seu visor, dados de coordenadas XYZ surgiram de forma abrupta conforme uma tela era gerada, cobrindo exatamente a visão que possuía daquilo que emergia ao longe. Piscou algumas vezes, passou a mão nos olhos e até tentou vociferar algo — tudo em vão.


O que quer que fosse, aquele laser era capaz de perfurar nuvens e clarear o céu como se fosse um simplório final da tarde.

Até o pântano tornou-se mais claro com a sua presença ao longe. Cálculos foram expostos em seu visor, jogando coordenadas não credenciadas, trajetos sendo refeitos conforme um mapa era expandido. Muitos dos detalhes sequer foram absorvidos pelo rapaz que, exasperado pelo que acontecia e, tomado por uma onda de esperança de que talvez tivesse enfim encontrado seu destino, mal notava que havia, inclusive, um nome oficial para o lugar em que encontrava-se atualmente: Pântano Abissal. Passado o tempo de euforia, começou a prestar atenção em cada um dos detalhes, inclusive, se esforçando para ver novamente aqueles dados que já haviam sumido de sua visão.

— Eu… descobri — apontou para o horizonte, com a palma da mão aberta, apenas para fechá-la ao redor da imagem do laser, mas não obteve sucesso.

As coordenadas foram sendo resetadas conforme os níveis de energia do traje foram reduzindo drasticamente. Passou-se alguns segundos até que percebesse o inevitável — o que quer que havia realizado, havia um custo de sua própria bateria. Agora até mesmo piscar ou falar tornavam-se tarefas difíceis. Observou MG-250 mais atrás que, atento ao que estava ocorrendo, aproximava-se com suas garras para fincá-las em suas costas. O mesmo processo de antes foi realizado, contudo, não houve qualquer tipo de sucesso. Piscou diversas vezes de maneira prolongada — o sistema gerava repetições preocupantes, dizendo que os níveis de bateria encontravam-se extremamente baixos.

”Energia em níveis críticos…
Ativando modo de economia de energia em alguns instantes, inserir plug de energia externa…
Módulo de energia externa prestes a esgotar.
Alto nível de filtragem de ar consumindo a fonte. Parar módulo imediatamente para consumir o restante de energia externa?”

— Sim, porra! Me deixa acordado!

”Confirmar a desativação do módulo de oxigênio?
AVISO: a atmosfera foi constatada com gases nocivos ao organismo frágil, podendo ocasionar…”

— Só… para de… me sugar…

Compreendeu que o traje estava mantendo os módulos de filtragem de oxigênio ao mesmo tempo em que calculava as coordenadas. Mais atrás, MG-250 parecia ter problemas em continuar a abastecê-lo: seus visores, com olhos avermelhados, tornavam-se cada vez menos saturados, aproximando-se do cinza. Talvez tivesse utilizado toda a sua energia para encontrar o destino que precisava ir. O preço? Bem, todo o seu corpo estava, lentamente, se desligando. Em cima do metálico, a Salandit acordava espreguiçando-se vagarosamente.

”Módulos de oxigênio desabilitados.
Energia externa absorvida.
Estado atual: 50%. Próxima recarga em aproximadamente: 6 horas, 43 minutos e 10 segundos. 9 segundos. 8 segundos. 7 segundos…”

CLANK!

O peso da carapaça metálica de Metang caiu com um baque no solo lamacento do lugar. Seus braços se minimizaram ao redor do corpo, como se abraçasse seu próprio eixo e os olhos desativaram-se, tornando-se completamente negros. A Salandit caiu sobre a criatura, correndo de medo e escalando o corpo do rapaz até chegar em seu ombro. Algumas reclamações foram feitas pela venenosa que tentou ainda conseguir o mesmo vindo daquele que havia escalado, mas encontrou em seu semblante apenas o puro desespero. Até então, o rapaz havia sido auxiliado e mantido vivo em suma pelo biônico — o que faria de agora em diante? Como seria capaz de cruzar todo esse caminho em busca daquele clarão no horizonte se não o tivesse ao seu lado?

— Ei…? — O cutucou. As coordenadas ainda estavam vívidas em seu visor, junto com a contagem regressiva de bateria.

Atrás, o feixe de luz responsável por cortar o horizonte fechou-se vagarosamente.

Ao dar dois toques na criatura, uma válvula abriu-se em seu pulso direito, explicitando uma pequena esfera enegrecida que envolveu o Metang numa rede de energia avermelhada. MG-250 foi recolhido para sua Poké Ball e, após isso, mantido em segurança dentro do traje. Em uma guia secundária, era possível notar as informações da criatura que, pelo visto, encontrava-se em estado crítico. Desativado, mais exatamente. Seus olhos, ainda confusos, ganharam o horizonte, vislumbrando apenas a cauda prateada daquele feixe de antes sumindo lentamente. A Salandit ao seu ombro ainda coçava os olhos, como se tentasse acordar de vez de um sono profundo. Sentiu o pesar em suas costas de, agora, não ter mais aquela mesma proteção em qualquer situação possível.

— Co-cof, cof-cof! — Tossiu no mesmo instante que visores constataram a presença de toxinas em seu corpo por vias aéreas. Deveria se lembrar que agora não estava mais protegido do oxigênio pútrido do local.

Sem saber como, ele iria cruzar aquele pântano em busca de suas respostas. Além disso, tinha uma dívida com MG-250: precisava de uma maneira de ativá-lo novamente, afinal, ao que tudo indicava, estavam ligados por algo que ainda não conseguia compreender. Enquanto a Salandit, bem… talvez fosse um bom tempo para ambos conviverem juntos. Numa corrida contra o tempo, precisava chegar em seu destino em menos de um dia. Isso enquanto seu corpo era lentamente decomposto pelas enzimas do lugar e apodrecido pelas vias aéreas corrompidas por gases nocivos. Uma tarefa fácil, hm?