[CL] Novo Rumo

Tão logo quanto chegamos à via principal da cidade, um veículo como eu nunca havia visto antes aproximou-se de nós. Ele tinha uma superfície arredondada e uma armação que parecia extra leve e dava impressão de ser quase toda de vidro. Também não possuía rodas, flutuando a alguns centímetros do solo, sem fazer ruído algum. Para nossa surpresa, foi Beatrice quem fizera a frente, liberando-se do apoio que eu lhe prestava para caminhar e indo até o carro, tentando aparentemente mancar o mínimo possível.

Após alguns instantes falando com o motorista, acenou para nós, fazendo sinal para que nos aproximássemos. - Venham, vou dar uma carona para vocês. - disse, entrando no carro seguira por mim e por Hiragi, que apenas deu de ombros ao trocarmos olhares. Agora, na luz da cidade, reparava em como ele parecia cansado e até mesmo... mais magro? Devia ser só efeito da iluminação mesmo.

- Senhorita Beatrice, sua irmã mais velha está preocupada com sua segurança. Já faz algumas horas que ela mandou-me lhe procurar, por não ter notícias suas. - informou o motorista, alguns minutos após ter começado a conduzir o veículo. Não havia se apresentado ou tampouco demonstrado alguma diferença à nossa presença.

- Ah, claro, tão preocupada que sequer moveu um dedo sequer além de mandar você me procurar. Ela deve estar é com medo de que papai e mamãe liguem e ela não consiga inventar alguma desculpa pra não saber onde estou.

A garota parecia emburrada. O motorista, por sua vez, não esboçou qualquer reação ou resposta, mantendo-se calado. Me perguntei se ele apenas achava melhor não retrucar ou se ele seria alguma IA. Ao invés disso, finalmente pareceu dar-se conta da presença de mim e de Hiragi no banco de trás.

- E esses dois, de onde os conhece, senhora?

- Então, eles... eu... - começou a garota, pela primeira vez parecendo nervosa dentro daquele carro.

- Nós-

- Nós a conhecemos da arena, senhor. - disparou Hiragi, interpelando-me enquanto colocava a mão sobre minha perna, como um sinal para que eu me calasse - Saímos para procurar por Pokémon selvagens, mas a Senhora Beatrice acabou tropeçando e torcendo o tornozelo...

Olhei para o garoto, sem entender o porque das meias verdades, e ele apenas retribuiu meu olhar profundamente, cheio de um significado bastante explícito que pude entender sem muita dificuldade: depois conversamos. A garota, por sua vez, olhou para o rapaz com certa gratidão.

Algum tempo depois, nos despedimos de Beatrice e descemos próximo do prédio onde Hiragi morava. Ele havia dito para que eu pedisse para ficar perto da casa de Garceov, pois já era tarde, mas eu insisti em acompanhar ele até em casa e ele acabou cedendo.

- Então, o que aconteceu lá no carro? Porque tanto segredo? - perguntei, enquanto seguíamos pelo elevador.

- Shhh, aqui não. - cochichou, e então seguimos em silêncio, até que ele fechasse a porta de seu apartamento às nossas costas, depois de entrarmos - Acho que tu provavelmente, não sabe, mas a fofoq... Beatrice, ela vem de uma família meio importante, dona de uma companhia. Não sei muito sobre eles, mas eu não confio nesse tipo de gente, então quanto menos souberem sobre qualquer coisa, melhor. - explicou, respondendo a um total de zero perguntas pra mim. Ele parecia um pouco diferente do comum, meio tenso e preocupado - Mas bem, já tá ficando tarde, acho que é melhor tu ir antes que o Garceov também acabe ficando preocupado. Obrigado por vir comigo até aqui.

- Na verdade, eu tava pensando... - comecei, já tendo reparado que o garoto, que era sempre tão animado e atlético, parecia tão cansado e tinha vindo quase se arrastando até o apartamento. Agora que eu conseguia ver melhor, sob a luz da sala, ele realmente parecia meio frágil, enquanto me olhava curioso, esperando o que eu tinha para dizer - Olha, Hiragi, eu to vendo que tu ta parecendo meio estranho, pensei em de repente ficar aqui contigo essa noite.

Os olhos do garoto pareceram lampejar de uma nova animação, e ele levou alguns instantes para me responder, enquanto parecia pensar, debatendo consigo mesmo alguma coisa que só seus próprios pensamentos pareciam saber. Num movimento repentino, o garoto se aproximou subitamente e me deu um abraço apertado. Seu corpo parecia quente, e ele tinha cheiro de produto de limpeza misturado com mais alguma coisa seca.

Quando me soltou, estava estampando o mesmo sorriso que eu normalmente via em seu rosto: animado e descontraído. E foi com esse sorriso que ele me respondeu, enquanto pegava em minha mão e parecia brincar com meus dedos, como uma distração e como se pedisse compreensão.

- Obrigado por se preocupar comigo, mas eu estou bem, só um pouco cansado mesmo. E to um pouco enjoado também, acho que hoje eu não vou ser uma companhia muito boa, mas vem aí algum outro dia que a gente faz uma noite dos games, o que acha?

- Hum, pode ser. Mas se precisar de alguma coisa, me liga, ok?

Nos despedimos e, por um pequeno instante antes de o garoto fechar a porta depois de eu sair, pude notar um mínimo vacilo em seu sorriso em seu sorriso, da mesma forma que eu já vira tantas vezes em Phillip antes, quando ele tentava insistentemente fingir que estava tudo bem.

Corri para casa, apenas vendo Garceod e Atalanta de passagem e avisando-os que eu estava sem fome, indo direto para meu quarto. Naquela noite, com minha mente sendo inundada pela torrente de lembranças que eu tanto tentava refrear, chorei como não chorava desde a primeira noite que passei sozinho em Njorlune.

Acordei com uma batida na porta. Olhei para o display próximo à cabeceira da cama e verifiquei que ainda era bastante cedo, mas ainda assim significava que eu já estava há mais de dez horas trancado no quarto.

- Rick, encomenda pra você, estou entrando. - anunciou Garceov, seguido pelo barulho da porta se abrindo.

Pulei da cama tão depressa que sequer tive tempo de raciocinar muito do porque ser o homem a levar qualquer tipo de entrega pra mim, ao invés da Atalanta. Catei qualquer roupa que estivesse à vista e, quando o homem já estava dentro do quarto, deparou-se comigo tendo vestido uma calça pelo avesso e tentando tirar meu braço do buraco para a cabeça na camiseta.

- Ham... se eu tiver vindo em um mal momento posso voltar depois, sem problemas...

- Não, não, já está tudo sob controle... - respondi, tendo conseguido enfiar o braço pelo lugar certo para vestir a camiseta e ignorando deliberadamente a calça do avesso - Tu disse encomenda? Estranho, eu não pedi nada...

Reparei então na caixa que havia nos braços do homem, do mesmo tipo que eu abrira no dia anterior: uma caixa hermeticamente fechada da Gentec com as recompensas do Gacha.

- Não haviam dessas no meu tempo de juventude, eles estão bastante criativos, esses caras da Gentec. - disse Garceov, sentando-se comigo em minha cama ajudando-me a abrir e verificar os itens, depois de eu já ter explicado do que se tratava.

- Sim. Só é uma pena que um prêmio que eu recebi e que seria muito útil pra nós eu acabei perdendo nas cavernas, ontem... - expliquei rapidamente sobre a Friendball, o desabamento, a caverna e a tentativa falha de captura do Togepi, que acabou me custando a esfera especial, cujas partes eu não havia encontrado depois. - Em compensação, encontrei essa rocha aqui... Como ela me pareceu diferente, trouxe para darmos uma olhada na ofici-, na tua sala. Até tinha me esquecido dela, pra falar a verdade.

- Do jeito que chegou ontem e veio direto pra cá, sem nem jantar, imagino que tenha esquecido muita coisa, mesmo. - jogou o homem, e então, com um pesado olhar cheio de significado, seguiu - Enquanto que outras coisas eu acredito que nem tanto.

Bingo. Desviei o olhar, evitando contato direto com seus olhos. Sentia como se, caso eu tentasse suportar o peso de seus olhos, ele seria capaz de ler através de mim.

- Não estou aqui para interrogá-lo ou te dizer o que fazer, então não se sinta obrigado a me contar nada que não queira. - Garceov levantou-se, deixando a caixa de lado e começando a dar um ou outro paço pelo quarto, observando as mudanças que minha estadia ali haviam promovido ao local - Mas também preciso te lembrar que eu estou aqui. Eu te acolhi aqui não só por algum tipo de senso de responsabilidade ou piedade, mas porque eu realmente gosto de você e me preocupo. Então qualquer coisa que esteja sentindo pode desabafar comigo, se quiser.

Garceov abaixou-se à minha frente, colocando sua mão sobre meu ombro, e fitou-me à altura de meus olhos, que estavam baixos. Os ergui para analisar sua expressão. Ele parecia sincero e realmente preocupado. Além disso, o que ele dizia era verdade, e eu sabia disso, sem falar que desde que eu havia me mudado para seu apartamento, que eu muitas vezes já me pegava pensando como casa, a gente tinha começado a se aproximar bastante.

- É, tem razão... desculpa por ontem, acho que não fui muito legal... - antes que ele falasse alguma coisa, como percebi que ele iria fazer, segui falando - Na verdade ontem aconteceram algumas coisas que me lembraram um pouco de Pardosa, principalmente do meu irmão, Phill. A gente era sempre muito unido, desde que... nascemos. Então esse tempo maior assim, distantes... só não estou acostumado com isso, às vezes me pego me perguntando como ele está.

A expressão de Garceov tornou-se, por um breve instante, em algo que pareceu um misto de culpa com indecisão, mas foi tão rápido que nem tive tempo de me ater muito a isso. Antes que eu falasse mais qualquer coisa, o homem sentou-se ao meu lado e rapidamente me puxou para um abraço do qual não tive condições de apresentar qualquer resistência mesmo que quisesse, considerando o quão maior que eu ele era. Enquanto afagava minha cabeça naquele abraço, consolador, seguiu falando.

- Eu entendo como é isso, ficar longe de alguém que amamos. Mas eu posso apostar que ele está bem, e que também sente sua falta. - Garceov soltou-me de seu abraço, colocando ambas suas mãos em meus ombros e olhando profundamente em meus olhos marejados, agora com um sorriso confiante e de ternura - E também tenho certeza de que ele deve estar esperando o dia em que você voltará para vê-lo e contar sobre as tuas aventuras e conquistas por Neo Zenos.

Sequei algumas lágrimas que haviam escapado durante o abraço. Fui pego de surpresa pelo acolhimento que ele, mais uma vez, me transmitia. Eu sentia falda de Phill e de toda a companhia e cumplicidade que tínhamos um pelo outro, mas eu já não podia dizer que estava sozinho e abandonado.

- Tem razão, e também eu prometi pra ele que eu voltaria por ele, e quero conhecer vários lugares e descobrir várias coisas pra contar pra ele quando nos encontrarmos. Obrigado por estar aqui e pelo apoio.

- Huum, então quer viajar, conhecer e descobrir sobre diversos lugares? Uma ambição muito boa. - considerou o homem, aprovando e parecendo ponderar sobre algo - Não precisa agradecer, até porque na verdade nem levo muito jeito com essas coisas. Como sabe, eu moro sozinho, nunca tive família, então não acho que sou muito bom nisso. Mas de qualquer forma, vamos, se arrume logo e suba para tomarmos café da manhã, garoto. - bagunçou meus cabelos como já estava tornando-se um habito e levantou-se - A propósito - parou à porta, olhando-me com um ar de divertimento - Não me importo muito se está ou não completamente vestido, mas quando for vestir as calças eu recomendaria que fizesse pelo lado certo... hahaha - então saiu, parecendo satisfeito com a conversa.

Spoiler:

Antes de subir para o café da manhã, aproveitei para liberar meus pokémon de suas respectivas pokéball e apresentar a casa à Luna. A pequenina realmente não estava habituada com um ambiente urbano e doméstico, então ainda que ficasse um pouco ressabiada com cada coisa nova que via, também demonstrava grande interesse e curiosidade.

- Pela tarde vou querer que trabalhe comigo em algumas coisas na academia, mas pode ficar livre pela manhã, tenho algumas aulas pra dar. - avisou Garceov, já terminando seu café da manhã. Atalanta havia nos servido panquecas com geleia.

- Ah, que ótimo, eu tava querendo passar no Centro mesmo. Ontem foi um pouco puxado, vai ser bom que Mesh, principalmente, de uma verificada na saúde, e vai ser bom também pra mostrar um pouco da cidade pra Luna.

Não muito tempo depois, já saía do Centro Pokémon com meus companheiros totalmente recuperados. Glinch já estava bem, então nem precisou ser verificado, mas tanto Mesh quanto Luna haviam ficado bastante cansados das aventuras de ontem.

- Devolvam minhas joias! - ouvi o grito de uma mulher, vindo de um beco mais ao lado - Essas joias são minhas! Elas são minhas por direito!

Corri até o local de onde vinham os gritos, onde encontrei uma mulher caída no chão, olhando em direção a um pequeno bando de pokémon rochosos que fugiam do lugar pulando por diversas caixas empilhadas.

- Oi, eu ouvi gritos, eram seus? O que aconteceu?

- Aqueles trombadinhas, eles levaram minhas joias! Elas estavam guardadas em um porta-joias de quartzo rosa, eles levaram ele com todas dentro. Por favor, você precisa me ajudar, eu não tenho nenhum pokémon para batalhas aqui comigo... - a mulher parecia realmente desesperada e, a julgar por sua aparência e vestimentas sofisticadas, pude imaginar que suas joias também não seriam nada simples.

Corri para a direção por onde os pokémon haviam escapado e, com um pouco mais de dificuldade do que eles, escalei a pilha de caixas até um tipo de plataforma que havia sobre um prédio baixo. O lugar parecia, assim como o resto da cidade, fundido à montanha, e possuía um tipo de torre sobre ele, com uma porta e uma escada, por onde imaginei que os pokémon poderiam ter escapado.

Segui correndo pelas escadas, chegando no topo já ofegante e sentindo algumas pontadas no abdome. Garceov tinha razão, eu tinha hábitos bastante sedentários, e duvido que algumas semanas atrás eu teria conseguido subir tudo isso tão rápido assim. O topo da torre era um lugar simples mas, ao mesmo tempo, incrivelmente bonito. Não possuía teto, mas tinha paredes de cristal em todos os lados, projetando aquelas luzes multicoloridas características da cidade, e servia como uma espécie de passarela entre alguns prédios mais altos que haviam ali, com um espaço maior servindo de jardim suspenso, onde estava o grupo de pokémon que eu perseguia. Eles saltitavam felizes em torno de algo que refletia um tom róseo. Só podia ser o estojo de joias.

Aproveitei o momento de distração deles e saquei minha pokédex para identificá-los. Era um grupo com cinco Carbink, pokémon do tipo fada e rocha e que possuíam gemas preciosas encrustadas na rocha que formava seu corpo.

- Bem, se eles são fada e rocha, já sei como lidar com isso. Venha, Mesh, vou precisar de você. - liberei meu pokémon e juntos seguimos até o grupo - Ei, amiguinhos, sei que esse estojo é muito bonito, mas será que vocês poderiam me entregar ele pra que eu possa devolver pra dona? É muito feio pegar aquilo que não é de vocês, sabiam? - os cinco Carbink se sobressaltaram com minha aproximação, mas não pareciam dispostos a entregar seu precioso item assim tão fácil. Formaram uma fila protetora na frente do objeto, olhando para mim e para meu Klink de maneira ameaçadora - Bem, se vocês querem do jeito mais difícil, não me deixam escolha. Mesh, comece com seu Shift Gear e então afaste aquele menor da ponta com Gear Grind.

Spoiler:

Mesh rapidamente começou a girar suas engrenagens, preparando-se para uma ofensiva, e antes que os adversários esboçassem reação o pokémon aproveitou do impulso e se lançou diretamente contra o menor e provavelmente mais frágil dos Carbink, atingindo-o em cheio com seu ataque e lançando-o para longe.

Os demais, pegos de surpresa, optaram por saltar para longe em reflexo, com exceção de um, o maior deles. O rochoso fez surgir, à sua frente, uma rocha de cor escura e aparência maciça, lançando-a contra Mesh. Ao atingi-lo, o peso da rocha fez com que meu pokémon caísse ao solo, atordoando-o por alguns instantes, tempo o suficiente para que os demais Carbink voltassem a agir, cada um deles repetindo o movimento do primeiro, mantendo Mesh no chão.

- Mesh, use seu Shift Gear para tentar sair daí!

Ainda que meu pokémon tivesse uma boa defesa e fosse resistente ao tipo de ataque dos Carbink, caso essa situação seguisse por mais tempo ele certamente estaria na pior. Mesh, como ordenado, começou a girar com velocidade duas engrenagens, tentando repelir as rochas que vinham uma atrás da outra, até que uma luz branca começou a ser emanada do pokémon. Uma das engrenagens começou a aumentar muito de tamanho, gerando uma menor logo à sua frente, que voltou a encaixar-se na outra. Saquei minha pokedex rápido, em tempo de gravar o fenômeno enquanto identificava a evolução. Assim que a luz cessou, o aparelho anunciou: Mesh havia evoluído para um Klang.

O tamanho e corpulência atuais de Mesh, além de sua defesa superior à anterior, o permitiram finalmente libertar-se das rochas que estavam sendo lançadas contra ele, nos dando uma nova oportunidade de contra ataque. Segui capturando a batalha com o item que tinha em mãos.

O pokémon, como que se lesse meus pensamentos, lançou-se contra o grupo girando suas engrenagens. Os Carbink, assustados, tentaram correr, mas não foram páreos para a velocidade de Mesh após o uso do Shift Gear duas vezes. Ele simplesmente os varreu, atingindo a todos com cada uma de suas engrenagens no uso de seu Gear Grind, lançando-os para todos os lados. Apenas um havia restado de pé: o maior deles, provavelmente também seu líder.

- Vamos Mesh, use novamente seu Gear Grind e vamos acabar logo com isso!

O Klang assentiu, determinado, e avançou contra o último Carbink, que mesmo tendo visto seus companheiros sendo colocados fora de combate ainda assim não desistira, agora conjurando diversas rochas que emitiam uma aura multicolorida à sua volta (um ancient power, pelo que pude perceber) e lançando-as contra Mesh. O metálico apenas fez foi iniciar o movimento de rotação de seu corpo, destruindo completamente as rochas que o atingiam e finalmente acertando o último dos adversários, também nocauteando-o.

- Mandou bem, Mesh! Eu sabia que tu dava conta deles, ainda que fossem cinco! - o parabenizei e segui até o estojo de joias, que, como sua dona havia dito, era realmente feito de um enorme quartzo rosa oco, bem lapidado e polido. Foquei o item na filmagem com a pokedex e anunciei - Vamos, Mesh. Vamos voltar e devolver isso pra dona.

Finalmente desliguei a gravação e segui pelo caminho por onde havia vindo. Como esperado, a descida fora muito mais fácil de realizar do que a subida, e pude encontrar a mulher no exato lugar em que ela estava antes, mas agora em pé. Parecia bastante nervosa, pois havia ficado com medo de que eu talvez não devolvesse as joias, que ela disse serem algumas herança de família e uma outra, um caro colar, um presente de noivado de seu pretendente, o qual, caso perdesse, poderia colocar a perder todo o casamento.

Após verificar que estava tudo ali como antes, agradeceu e partiu. Aproveitei que estava próximo ao CP para, novamente, recuperar a saúde de Mesh, afinal havia sido uma batalha cansativa. Enquanto meu parceiro era cuidado, aproveitei para fazer o upload da evolução e da batalha na Dexit, postando com a seguinte legenda "Mesh evoluindo em uma batalha contra uma horda de Carbinks. Conseguimos recuperar as joias levadas por eles e devolver à sua dona". Junto do vídeo, postei uma foto que tiramos eu, Mesh e a mulher segurando seu tão precioso estojo de joias.

-6 Bitcoins pela recuperação de pokémon 3x no CP

Garceov skin Facetas da Lua:

Assim que terminei de postar a foro e o vídeo na Dexit, reparei que havia uma mensagem que eu não havia percebido antes. Abri a notificação, era de Garceov.


Respondi prontamente a mensagem, mas o símbolo sob ela indicava que ela apenas havia sido enviada, mas ele ainda não a recebera. Talvez estivesse com sua pokedex desligada, ou em algum local onde estivesse sem sinal. Alias, havia algum lugar assim?

De qualquer forma, fiz como o homem indicara e segui rápido para a academia. Não reparei em nada anormal pelo caminho, e a sala também estava vazia quando cheguei. Ainda faltava um pouco para o meio dia, e como ele avisou que traria almoço, provavelmente chegaria depois, apenas.

Aproveitei o momento para liberar meus Pokémon pela sala. Luna e Glintch logo se impressionaram com a nova forma de re:Mesh. Luna, em especial, pareceu bastante animada, aproveitando-se do novo porte de seu companheiro para segurar-se em um dos dentes da engrenagem para que ele a içasse no ar, até que ela estivesse no topo e saltasse para o solo, repetindo a sequência de novo e de novo.

Glintch não pareceu tão interessado assim na brincadeira, observando a alegria óbvia dos dois com certo desdém e superioridade, mas eu sabia que ele estava apenas dando uma de durão, mas queria se divertir também.

- Ei, o que acha de jogarmos alguma coisa enquanto eles brincam?

O psíquico aproximou-se curioso, piscando as luzes de suas mãos. Mostrei-lhe, então, a tela de minha dexit, onde havia aperto um jogo chamado Gato&Cobra, que consistia em uma grade com nove espaços, onde os jogadores tinham que ir preenchendo os espaços, um de cada vez, com um símbolo de Seviper para um e Zangoose para outro, e aquele que conseguisse fazer uma fila de 3 vencia.

Glintch pareceu bastante animado com o jogo, e logo fez abrir um Pop-up de texto logo acima da tela do jogo, apenas para me escrever provocações. E tenho que admitir, ele acabou se mostrando melhor naquele jogo do que eu previra. Nas duas primeiras vezes ele parecia ainda se ambientar, mas logo na terceira ele já havia conseguido mapear o game de uma forma que começou a bolar estratégias para cada movimento que eu fazia. E, é claro, a cada vitória era uma nova mensagem de provocação.

Eu estava em uma sequência infindável de derrotas quando finalmente ouvi o barulho da porta se abrindo. Era Garceov, e ele trazia nosso almoço.

- Oh, olha garoto! - o homem parecia bastante animado enquanto depositava nossos almoços na mesa e verificava sua Pokédex - Que bom que recebeu minha mensagem à tempo, tive medo de alguém estragasse a surpresa e contasse antes de mim.

- Surpresa? Que surpresa? - questionei, curioso e sem entender nada, já tendo deixado de lado o jogo de Gato&Cobra. Até mesmo meus pokémon haviam tido sua atenção clamada pelas palavras do homem.

- Pois veja você mesmo, Abra. - respondeu, jogando para mim uma carta lacrada, com um selo da academia. Apesar da aparência, assim que a peguei em minhas mãos pude perceber que ela não era de papel, mas sim de uma fina e delicada estrutura metálica. Quando rompi o lacre e a abri, me deparei com o surgimento de um holograma de um homem de capuz branco, que só notei ser Garceov quando pude ouvir sua voz na gravação.

Spoiler:

"Parabéns, Richard Griffiths. É com orgulho que anuncio que você foi admitido à Academia Lunar de Njorlune! Há duas opções de cursos disponíveis, cujas informações serão enviadas para sua Dexit para que possa escolher. Para efetuar sua matrícula, basta submeter seu projeto ao crivo do professor responsável, junto da taxa de inscrição. Aprovado o projeto, sua matricula será efetivada, e poderá gozar de todos os benefícios de aluno da Academia."

Fiquei paralisado, olhando atônito para o sorriso confiante do Garceov na gravação para, então, o sorriso animado e orgulhoso do Garceov real à minha frente, sem acreditar no que acabara de ouvir. Falando em ouvir, foi bem à tempo de receber uma notificação em minha Dexit. A saquei imediatamente para conferir se aquilo turo era mesmo real e estava acontecendo, o que acabou arrancando algumas gargalhadas do homem. Assim que abri a mensagem, pude ter certeza de que era real: estavam ali os dois cursos disponíveis para mim e as instruções de seus projetos, bem como algumas informações sobre cada um. Eram Engenharia Mecatrônica e Engenharia Elétrica.

- Parabéns, filho, está a um passo de alcançar seu primeiro objetivo. Espero que esteja orgulhoso, pois eu estou. - Garceov aproximou-se, pegando seu almoço e sentando-se para comer - Mas agradeça a mim também, passei por um bocado para conseguir isso, então mais tarde vamos comemorar.

- Sim, nós vamos. Muito obrigado por tudo, Garceov. Ou agora devo te chamar de Professor Garceov? Haha

- Nem pense nisso, ou te expulso da minha casa, garoto. Hahaha

Seguimos nosso almoço em um tom divertido e descontraído. Minha cabeça viajava para longe, imaginando todas as possibilidades que agora me estavam disponíveis, todas as coisas que eu poderia alcançar, o quão longe eu poderia ir.

O trabalho pelo período da tarde seguiu no mesmo clima animado. Mostrei para Garceov a rocha que havia encontrado na Montanha Opalina, e uma rápida leitura ele revelou acreditar se tratar de uma Damp Rock, uma gema com propriedades especiais relacionadas ao clima, capaz de fazer com que as chuvas tivesse maior durabilidade.

- De qualquer forma, não é algo que se vê todo o dia. Eu mesmo só vi umas duas dessas, mas nunca tive uma em mãos assim...

Levamos o item até o analisador de dados, um mecanismo capaz de escanear e captar informações a nível molecular. Dessa forma, teríamos certeza de que se tratava de uma Damp Rock, bem como teríamos mais dados sobre ela, o que permitiria que buscássemos um entendimento de como ela tinha esse efeito sobre as chuvas. Contudo, a análise ainda demoraria algum tempo.

- Mas então, já decidiu o curso que pretende seguir? Não esqueça que cada um segue um ramo diferente, e tem uma tarefa diferente para apresentar para o examinador.

- Sim... eu acho que já decidi. Na verdade, até então eu achava que sabia qual caminho seguir, mas quando me foram oferecidas essas duas opções... - uma pequena pausa, enquanto procurava as palavras certas pra explicar - Não sei, é como se tivesse me surgido uma oportunidade que até então eu não tinha imaginado e que me fez perceber que o caminho que eu tava seguindo não tinha sido eu quem tinha escolhido. Não sei se consegue entender...? - olhei para o homem, eu mesmo tentando entender o que havia acabado de falar.

- Ah, sim. Consigo entender o que sente. - Garceov sorriu, dando-me mais confiança - Sendo assim, como já escolheu, vou te dispensar de me ajudar por aqui até que submeta teu projeto, pra que possa se concentrar totalmente nele e terminar o quanto antes. - fez um gesto abrangendo toda a sala - Eu não vou ajudar diretamente no que quer que tu pretenda criar, pois seria injusto, mas posso lhe explicar sobre um ou outro conceito e sua aplicação prática, caso precise. E também pode levar qualquer material que vá usar, e se precisar de mais algum pode pedir para mim que eu te forneço.

- Muito obrigado, Garceov. Isso vai ser de grande ajuda, mesmo. E eu já tenho algumas ideias do que quero fazer, e por hora acho que consigo dar um jeito de aplicar os conceitos que já conheço e pesquisar os que tenho alguma dúvida.. - fui até as pilhas e pilhas de coisas que ele simplesmente juntava e deixava esquecido lá e comecei a procurar por peças que pudessem ser úteis e que não fossem tão sucata ou que pudessem ser restauradas pra ficarem como novas - Por hora, acho que vou levar algumas coisas daqui.

Garceov observou curioso enquanto eu reunia as peças para levá-las para o apartamento, mas se ficou curioso sobre o que eu pretendia, não questionou, assim como eu também não comentei. Tudo pronto, fechamos a sala para voltarmos para casa juntos.

Quando saíamos da academia, nos deparamos com um pequeno Igglybuff passeando por ali. Simplesmente ignorei o bicho e fiz menção de seguir em frente, mas como reparei que Garceov havia parado, também parei e aguardei.

- Alias, Rick, lembro que logo que nos conhecemos lhe recomendei a participar mais ativamente da Liga, pra conseguir melhorar tua reputação e teu Rank, lembra?

- Hum... sim, inclusive passei a fazer mais batalhas na arena e a manter minha Dexit atualizada. - informei, sem entender aonde o homem queria chegar, com aquele sorriso de que eu tava ignorando o óbvio.

- E vai deixar a oportunidade de batalhar com um selvagem, gravar na pokédex e postar na dexit a troco de que? - questionou, claramente sem paciência pra esperar que eu raciocinasse e chegasse a essa conclusão por mim mesmo - Vamos, vá batalhando e poste na Dexit, é importante pra ter mais visibilidade. Eu vou indo na frente. Minha manhã foi exaustiva, preciso de descanso. Quando chegar, comemoramos, está bem?

O professor bagunçou meus cabelos, como já era característico, e então foi embora, me deixando para trás com a Igglybuff. Saquei minha pokédex e mirei na selvagem, coletando suas informações. Ela parecia ser bastante fraca, então seria algo rápido. Lancei a pokéball de re:Mesh liberando-o, e chamei a atenção da rosada, enquanto começava a captura de vídeo.

- Ei, Igglybuff, o que acha de uma batalha? - se o selvagem entendia ou não o que eu havia dito, ao me ver posicionado atrás de meu pokémon deve ter ficado bastante claro para ele que se tratava de um desafio. Ele então encheu seu corpinho de balão tomando uma pose orgulhosa e se aproximou, preparando-se para batalha. - Vamos lá, Mesh. Comece com seu Vice Grip e então lance-a com seu Shift Gear.

Meu pokémon lançou-se rapidamente contra a pequena fada, seu corpanzil várias vezes maior do que o dela, e rapidamente a pegou entre suas engrenagens. O Igglybuff, ainda que preso, não se deu por vencido, Inflando seu corpo com Defense Curl e desferindo diversos Pound contra o corpo do metálico.

Antes que ele continuasse dando sequência aos ataques, re:Mesh girou suas engrenagens, lançando-o para longe enquanto elevava seu próprio ataque e velocidade. A fada, por sua vez, pareceu mimetizar o movimento dele, seu corpo de balão gerando uma engrenagem ilusória em torno de si mesmo. Ela havia usado o Copycat para copiar o ultimo movimento de Mesh, pelo que pude consultar na Pokédex. Garceov tinha razão, essa seria uma boa batalha para postar. Aquele selvagem podia ser fraco, mas não podia ser dito que não era bom de briga.

- Tenho que reconhecer, você é durão, carinha, mas isso acaba aqui. Mesh, finalize com Gear Grind.

O Igglybuff até repetiu o uso de seu Defense Curl enquanto re:Mesh avançava, mas não foi o suficiente para permitir que aguentasse o dano. Assim que o metálico atingiu o selvagem repetidas vezes com sua engrenagem, Igglybuff foi novamente lançado para longe, ficando sem condições de seguir a batalha.

Aproximei-me do selvagem para verificar se estava tudo bem, e ele não apresentava nenhum tipo de ferimento, só pequenas escoriações e cansaço da batalha, mesmo.

- Você lutou bem, pequenino. Quem sabe qualquer dia a gente não batalha de novo?

O selvagem pareceu contente com a atenção, e então inflou seu corpo, voando para longe dali. Parei de gravar um pouco antes de perde-lo de vista, e então comecei a fazer o upload na dexit. Retornei re:Mesh para sua pokéball e tomei o caminho de casa.

Ao chegar, pude sentir o perfume da culinária de Atalanta espalhando-se deliciosamente pela casa. Sentado no sofá estava Garceov, com alguns petiscos em frente e segurando uma latinha em uma mão e sua pokédex na outra. Parecia ter acabado de sair do banho, os cabelos ainda meio úmidos e apenas uma toalha sobre seus ombros, deixando seu tronco desnudo à mostra. Ele realmente tinha um físico invejável, e eu sabia que teria que me esforçar mais se quisesse chegar a isso um dia. Reparei que haviam algumas cicatrizes em seu corpo, me perguntei qual seria a história delas.

Reparei que o homem olhava fixamente, de uma forma meio vidrada, para algo que não aprecia estar ali, mas sim em sua mente. Parecia um pouco perturbado. Foi só quando fechei a porta da frente que o ruído pareceu lhe despertar de seu transe, fazendo-o voltar ao normal.

Spoiler:

- Tava justamente assistindo à batalha. Aquele pequeno era algo mesmo, não é? Hahaha - comentou, suas bochechas um pouco coradas - Venha, já experimentou gin tônico? Eu tomei uma vez, quando visitei Limford anos atrás, e desde então sempre encomendo uns fardos pra ter guardado.

- Mas... eu nunca bebi antes, não sei se seria muito... - me aproximei, largando minhas coisas perto da escada e seguindo até o sofá onde o homem estava, um pouco inseguro com a bebida.

- Ah, vamos, experimente. Hoje vamos comemorar, porque a partir de amanhã é que tu deverá focar totalmente no projeto. - insistiu, já abrindo uma latinha e me alcançando.

Peguei, ainda receoso, e tomei um gole. Logo de primeira, quase engasguei, quando a bebida desceu parecendo que queimava, secando totalmente minha garganta e me fazendo perder o ar. Tossi algumas vezes, o que apenas fez Garceov gargalhar e dar uns tapinhas em minhas costas - o que não ajudou muito, considerando sua mão pesada e que ele já não estava em sua primeira latinha.

- No começo é assim mesmo, mas não desista, garanto que o esforço vai compensar. - incentivou, e então entornou sua latinha e esvaziando seu conteúdo em vários goles seguidos. Assim que terminou, colocou-a sobre a mesa com força - Bhaaa! Não tem bebida igual. - exclamou, mais para si do que para mim, já pegando outra.

Se ele consegue, eu também consigo!, pensei, e então virei minha latinha também para tomar um grande gole. Nem preciso dizer que deu muito ruim, né? Quando consegui engolir - pois minha garganta parecia que ia fechar - tive mais uma crise de tosse, mas mais controlada. Mas, dessa vez, pude sentir melhor o sabor da bebida. Apesar do gosto forte, conseguia notar os sabores e nuances que ela trazia, e era realmente muito bom.

Pude perceber que, conforme tomava, ia ficando mais fácil, até que parei de engasgar, e o sabor também parecia ficar melhor. Dava pra entender porque Garceov gostava tanto.

- Pra quem disse que nunca bebeu antes, até que ta gostando bastante. Mas vai com calma, ou quando bater tu não vai saber nem de onde veio.

Eu assenti, mas admito que acabei não dando ouvidos ao aviso do homem, e logo já estava em minha segunda latinha, enquanto ríamos e comíamos os petiscos que haviam na mesa. Garceov apenas deu de ombros, apenas murmurando algo como "todo mundo tem sua primeira vez..." e passou a não se segurar na bebida também. Atalanta repunha os petiscos, conforme comíamos e ela fazia mais, até que estávamos totalmente satisfeitos.

O resto da noite seguiu-se com a gente se divertindo, rindo, conversando e jogando vídeo-game. Estávamos total e completamente bêbados, e era algo mais divertido do que eu teria imaginado. Ou pelo menos foi o que pensei no momento, antes de dormir e acordar com a ressaca no dia seguinte.

Log de informações escreveu:

• Colocada Damp Rock em analisador de sistemas para descobrir sua composição e desvendar suas propriedades;
  
• Gravado e postado na Dexit vídeo completo da batalha contra Igglybuff selvagem.