[CL] #01 Nuances do Mar

embate que ocorria na arena terminou de acordo com o previsível: derrota por parte do treinador com um Persian. Certamente as fotos e filmagens da batalha começariam a ser postadas em breve, garantindo ao vencedor alguma fama, enquanto que ao perdedor, somente má reputação. O epicentro ficara vazio enquanto os demais decidiam quem seriam os próximos a se enfrentar.

— É a nossa vez. Vamos batalhar.

Não entendia quais eram as reais intenções do idoso com aquele convite. Era comum que batalhas ocorressem a todo tempo, bem como treinadores desafiando outros nos momentos mais importunos possíveis, mas pelo diálogo que construímos até ali, não me parecia que almejava apenas uma batalha para o seu perfil no Dexit. Averiguar o nível dos meus sentimentos pelos water-type? Curioso.

Harrick levantou-se, tomando posse de uma bengala de madeira personalizada que jazia ao seu lado; não perceber sua aproximação me fez não notar também o objeto anteriormente. De pé, pude ver que ele era baixo, pelo menos dez centímetros menor do que eu. Trajava um sobretudo escuro curto, calças e sapatos comuns, complementando sua figura misteriosa com um cachecol branco que mais servia como acessório do que para de fato o aquecer. Projetava a presença de um homem sério, sábio e bastante decidido.

Embora não me sentisse preparado, lembrei-me da minha impotência diante da situação no Seaquanis Lake e do urro que Stellmaria soltou ao ser atacada, o que me fez levantar. Segui o misterioso homem, descendo as escadas até chegarmos na área demarcada para os duelos. Os expectadores logo perceberam o que ocorreria, afastando-se de modo a livrar o espaço e dando início a uma série de comentários sussurrados.

"— Não é aquele velho que veio de Magomedov?"

— Façamos dessa uma batalha de round único, com apenas um Pokémon cada. Fez uma pausa, levando sua mão esquerda até o bolso do sobretudo e tomando posse de uma pokéball. Liberou dela uma grande criatura azulada, com nadadeiras e um casco rochoso nas costas. Esta materializou-se atrás de Harrick, que acariciava seu rosto gentilmente. — Hazel será minha representante.


Era um Pokémon que somente havia visto em sites e artigos pela internet, nunca presencialmente. Era linda, majestosa, certamente criação de algo acima de nossa sabedoria. Precisei me conter para seguir com o roteiro da batalha sem demonstrar meu enorme encantamento pela Lapras. Liberei Stellmaria de sua esfera, que prontamente se colocou a frente entendendo o contexto da situação.

— Conto com você, garota.

A Lapras locomoveu-se para frente, emitindo um som característico de sua linguagem, indicando estar pronta. Harrick sorriu com uma espécie de pretensão no canto dos lábios, como se estivesse convicto de algo.

— Percebe que talhou o resultado deste confronto no momento da sua escolha?

Em nossa volta, os comentários continuavam. Ouvi algo sobre Magomedov novamente, mas o resto não passava de murmúrios segredados àqueles mais próximos. Precisava focar-me. Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas busquei não deixar minha atenção perder-se nisso. Tomei em mãos a Pokédex e ativei a função de reconhecimento, visando obter dados a respeito da aquática adversária.

Pokedex escreveu:

Um Pokémon inteligente e de bom coração, nada pela superfície do mar enquanto sua bela canção ecoa nos arredores. Atravessar mares gelados não é problema para este Pokémon resistente ao frio. Sua pele lisa é um pouco fria ao toque.

Magnífica, pensei. Estava prestes a dar algum comando para Stellmaria, quando ele o fez primeiro, logo após eu tirar meus olhos do aparelho e voltá-los a arena.

— Hazel, Water Pulse. A calmaria no tom complementava sua figura enigmática.

O corpo da Lapras emanou uma aconchegante luz azul, a qual ela passou a concentrar na boca gerando uma pequena esfera luminosa. Emitiu então um sutil brado, fazendo com que a mesma expandisse seu tamanho para só então lançá-la contra Stellmaria. Por mais que não fosse um ataque muito efetivo devido a tipagem da Dewgong, achei que seria melhor tentar o evitar.

— Intercepte com o Brine! Elevei um pouco meu tom de voz, pois os sussurros dos demais treinadores aumentavam. — Depois dispare o Aurora Beam.

Os movimentos aquáticos colidiram e uma considerável quantidade de água banhou a arena quando o Water Pulse explodiu. Todo o chão encontrava-se encharcado agora. Tão logo as últimas gotículas terminaram de cair no chão, Stellmaria inclinava seu chifre para frente para projetar o raio luminoso na direção de Hazel. Com o solo molhado, a gama de cores presentes no ataque era refletida em alguns pontos específicos. A adversária foi atingida na região do pescoço, mas pouco abalou-se devido a resistência que possuía. Precisaria adotar outra estratégia.

— Cante para nós com seu Sing.

Eu realmente não esperava por algo assim. A Lapras começou a entoar um canto melancólico, inocente, algo tão belo que poderia fazer qualquer um questionar se era digno o bastante para o estar ouvindo. Minhas pálpebra tornaram-se um pouco pesadas e um estado de leveza tomou parte do meu corpo. Percebi que os demais presentes encontravam-se do mesmo modo, mas na Dewgong o efeito fora consideravelmente mais potente. Ela foi compelida a dormir em plena batalha. Quando Hazel finalizou sua canção, meu estado de sonolência passou e percebi a gravidade do cenário atual.

— Stellmaria, acorda!

— É inútil. O ponto interessante da situação em que sua Pokémon se encontra, é que não importa o quanto seja alvo de ataques, ela continuará dormindo até que o efeito do Sing cesse. Harrick explicou, como quem lecionava. Ele era mesmo tão experiente? — Hazel, Ancient Power, depois Body Slam.

Cores entre o amarelo e marrom eram agora emitidas pelo casco da aquática, do qual foram expelidas esferas luminosas portando estas mesmas tonalidades. Com uma guinada de sua cabeça, os projéteis caíram como chuva em cima de Stellmaria. Embora aquele ataque causasse grandes danos à sua resistência, ela prosseguia dormindo. Hazel teve tempo o suficiente para se locomover até minha Dewgong e aplicar-lhe um golpe corporal, fazendo com que rolasse para o lado, ainda inerte. Era uma situação desesperadora para qualquer um numa batalha.

— Stellmaria, você precisa acordar! Por f... Ela acordou. Estava visivelmente abatida pelos golpes que recebera, o cansaço físico se manifestando conforme a sonolência ia embora. Contrário ao que aparentava, virou sua cabeça para mim e pediu por um comando, querendo proceder com o embate. O Aurora Beam não fizera nada à Lapras, então precisei optar pelo outro movimento disponível visando que a Dewgong não precisasse sair do lugar. — Brine!

O disparo pressurizado de água supriu a distância entre as Pokémon rapidamente, atingindo Hazel com força. O problema é que ela sequer aparentou estar sendo atacada, pelo contrário, parecia estar ainda mais saudável que anteriormente. O que aconteceu?

— Eu disse que o resultado havia sido talhado no momento da sua escolha, rapaz. O tom de Harrick mudara, como se estivesse... desapontado. — Hazel é imune a movimentos aquáticos devido a sua habilidade Water Absorb.

Como eu não cogitei isso? Estava incrédulo com meu despreparo e desatenção. Se eu tivesse analisado os dados dispostos mais abaixo na Pokédex, certamente obteria essa informação. Minha derrota se daria por um mero deslize na barra de rolagem do aparelho que deixei de executar?

— Caso você não tenha à disposição nenhum ataque além dos que apresentou, acredito que podemos encerrar esta batalha e pouparmos Stellmaria de um desmaio.

O resultado que eu havia talhado? Minha derrota, entendia agora.

— Me desculpe, garota. Usei o tom mais carinhoso que possuía, enquanto me aproximava dela para acariciar-lhe. — Vamos parar por aqui.

Harrick agradeceu à Lapras pelo desempenho e a retornou na sequência para sua esfera bicolor. Olhou-me por um instante, depois comprimiu o lábio inferior numa expressão de desapontamento. Virou-me então as costas, rumando para a saída da arena em absoluto silêncio. Não fosse os comentários dos presentes no local, somente o som das brisas artificiais soprando poderiam ser ouvidos.

u estava intrigado demais para deixar que o fim daquela situação se desse daquela forma. Não podia permanecer ali, estagnado e sem resposta para as inúmeras perguntas formuladas em minha cabeça desde a aproximação do velho homem. Era uma sensação engraçada e nova essa que sentia agora. Minha curiosidade dificilmente era cativada por seres humanos e seus mistérios, mas Harrick tecera para mim um enigma completo, o qual eu tinha anseio em desvendar.

— Viu os olhares que recebeu quando usou o Aurora Beam? Consolava Stellmaria, que se encontrava abatida pela incapacidade de vencer o embate. — Não fique assim, você foi esplêndida e graciosa como sempre! Pode descansar agora. Retornei a Dewgong para sua pokéball e deixei para trás os treinadores que continuavam a comentar sobre a batalha. Não viam um homem de vestes estranhas e chifres duelar contra um misterioso e habilidoso senhor todo dia, afinal.

Na porta de saída daquela arena, vi a silhueta de Harrick dobrando a esquina à esquerda. Ele caminhava tranquilamente, porém decidido do destino a ser seguido. Seus atos nunca pareciam abrigar inconstâncias ou dúvidas, estava sempre convicto do próximo passo. Pelo ritmo que se locomovia, teria o alcançado sem qualquer transtorno caso meus olhos e atenção não estivessem tão concentrados nele. Tropecei em algo, dando um trote para frente e caindo no chão. Pude amenizar a queda com as mãos, mas isso não a impediu de ser constrangedora  diante daqueles que passavam na calçada paralela.

Quando coloquei-me de pé e olhei para trás a fim de entender o ocorrido, precisei abaixar-me rapidamente para não ser golpeado na face pela garra de uma criatura furiosa. Esta, diante da minha esquiva, realizou um pouso sem dificuldades, como se estivesse habituado a acertar aqueles que considerava ameaças diretamente no rosto.

— Desculpa, amiguinho! Não o vi ali.

Não adiantaria argumentar. Ele estava bravo, bradando em sua própria língua o que eu acreditava serem ofensas consideravelmente pesadas. O problema mesmo era que ele não estava sozinho. Atrás de mim, outras vozes similares a dele começaram a proferir dizeres também não compreensíveis aos meus ouvidos humanos, porém todos carregados de desconforto e irritação. Pelo o que me recordava a respeito da espécie, eram mesmo criaturas difíceis de lidar quando em bando.

Quando a lagosta tomava impulso novamente para atacar-me, Vhagar achou que aquela seria uma ótima oportunidade de demonstrar sua força. Driblou a tecnologia que o guardava dentro de sua pokéball e saltou na direção do selvagem que, agora em pleno ar, não pôde reagir contra a mordida que o Chewtle dera na parte superior de sua garra. Com um giro corporal, arremessou o crustáceo por cima de mim, fazendo-o se unir ao quarteto que esbravejava. Ele parecia ser o líder do bando, visto que logo colocou-se à frente dos outros. Explorando visualmente seu corpo com mais calma, notei diversas pequenas cicatrizes certamente provindas de confrontos que travou durante sua vida. De qualquer forma, pela postura do quinteto, não mais conseguiria sair dali sem uma batalha.

— Vhagar, iremos enfrentá-los, mas você precisará me ouvir atentamente dessa vez. Meu tom soara firme como nunca usado com o pequeno Chewtle até então. Visto seu movimento com a cabeça, parecia ter funcionado. — Water Gun!

Enquanto ele realizava seu disparo de água e os selvagens se movimentavam visando o evadir, aproveitei para obter seus dados por meio da Pokédex.

Pokedex escreveu:

Corphish captura presas com suas garras afiadas. Este Pokémon tem uma forte vontade de sobreviver. Não importa o quão suja esteja a água de um rio, ele irá se adaptar e prosperar.

Era uma criatura no mínimo digna de admiração por sua habilidade e capacidade de adaptação a obstáculos como a poluição. Olhando em seus olhos, captei uma força interior que fez com que meu coração palpitasse forte contra o peito. Pokémons aquáticos podem ser muito poderosos, contrário o que ditava a subestimação que sofrem por não serem conhecidos pela maioria. Naqueles Corphish, vi a oportunidade de demonstrar aos outros o poderio dos Water-Type como sempre quisera fazer.

— Vhagar, acerte o líder com sua cabeça. Headbutt!

O pequeno quadrúpede trotou por meio de pequenos saltos em direção ao oponente indicado, mas o crustáceo era habilidoso. Com o Double Hit, colidiu sua garra destra diretamente contra o crânio do Chewtle, interrompendo seu ataque frontal, para só então o golpear com a pata livre diretamente no queixo. Vhagar caiu para trás, um pouco atordoado, mas logo recuperou-se; não iria deixar aquilo sem retribuição. Porém, os adversários eram rápidos.

Com um brado daquele que guiava o bando, cercaram meu pequeno companheiro e levantaram suas garras, prontos para lhe aplicar uma série de ataques físicos. Devido a presença de uma sútil luz obscura em seus membros superiores, imaginei tratar-se de algum ataque do tipo Dark.

— Defenda-se com o Protect!

O domo luminoso evocado cumpriu seu papel para evitar que aquela série de golpes fossem efetivos, contudo, embora não fosse capaz de verbalizar isso, sabia que o pequeno Chewtle jamais seria capaz de lidar com cinco adversários sozinho. Stellmaria ainda se recuperava da última batalha e achei que faria bem em não trazê-la para um novo confronto tão rápido. O que eu podia fazer para garantir alguma vantagem, era diminuir o número de oponentes. Quando a cúpula de proteção cessou, dei o próximo comando à Vhagar.

— Water Gun!

Perto daquela forma, o líder dos Corphish nada pôde fazer além de se proteger com as garras. Fincou suas pequenas patas no chão o mais forte que pôde e inclinou o corpo para frente, resistindo a pressão da água imposta contra ele. Embora o disparo de Vhagar não fosse muito eficaz na lagosta, minha intenção com este funcionara perfeitamente. Enquanto o quinteto estava distraído com a ação do azulado, tomei em mãos duas das pokéballs vazias que carregava comigo. Assim que o Water Gun dissipou-se, projetei as esferas na direção do líder e daquele mais próximo dele, visando uma captura dupla.

O selvagem mal conseguiu entender quando a pokéball arremessada por mim chocou-se contra sua cabeça, englobando-o com uma energia azulada que rompeu de dentro da mesma. O companheiro ao lado também tratado como alvo, sofreu da mesma falta de compreensão que seu líder quando a segunda esfera bicolor o atingiu. Caso aquela ação munida do fator surpresa fosse efetiva, Vhagar teria de enfrentar apenas o trio restante, que, talvez sem seu líder, se tornassem oponentes mais desorientados e fáceis de lidar.

Captura Dupla escreveu:— Lançadas 2x Pokéballs visando diminuir o número de oponentes.
— Lançarei agora os Dados, continuando a narrativa na sequência de acordo com os resultados.

primeiro e crucial passo da estratégia montada fora um sucesso. Com a captura do líder do quinteto e de um membro secundário, os três remanescentes pareciam abalados e surpresos demais para agir. Cogitei aproveitar deste momento de estagnação deles para partir, mas Vhagar aparentava estar com carga total. Seria injusto para com a índole do pequeno guerreiro fazê-lo desistir de um combate digno de sua força, e além do mais, nada de grave poderia acontecer nem com ele, nem com os selvagens.

— Use o Headbutt!

O que estava mais próximo dele, sendo o menor e talvez o mais inexperiente, ainda não havia recobrado a consciência em tempo de defender-se. Foi acertado frontalmente pela cabeça do quadrúpede, ficando paralisado com o choque da colisão. Por outro lado, os outros dois crustáceos pareceram entender que deveriam continuar mesmo sem seu líder para os guiar. Embora estivessem um pouco desorientados, não eram inofensivos.

Um deles deu início a uma série de movimentos com as garras, quase como se estivesse dançando enquanto estudava a melhor forma de atingir a tartaruga adversária. O Swords Dance era algo a se preocupar. Enquanto executava a dança, seu parceiro não perdeu tempo em aplicar dois golpes consecutivos no rosto do Chewtle, tal qual um ágil boxeador faria, obrigando-o a recuar um pouco. Sua maestria no uso do Double Hit era notável. Quando retraiu suas garras e cessou o ataque, aquele que dançava saltou para atacar.

— Use o casco para amenizar o impacto! Depois retribua com Counter.

O Corphish abriu e fechou sua garra direita duas vezes rapidamente, talvez afiando-a para a investida que realizava enquanto caía de seu salto acima de Vhagar. Quando estava próximo, colidiu seu membro contra o casco do Chewtle com força o suficiente para fazer as pernas dele cederem. Fora um golpe preocupante. O pequeno caiu ao chão, soltando um urro de dor que não tardou em transformou-se em um brado de raiva.

Tomado pela adrenalina e pelo instinto de vingança, usou seu chifre para aplicar um ataque com a cabeça no peito da lagosta, revidando o ataque sofrido com potência ainda mais elevada. O Knock Off do Corphish após o uso do Swords Dance fora uma faca de dois gumes: um deles fez com que Vhagar sofresse grandes danos, já o outro, garantiu-lhe a incapacitação de continuar batalhando agora que desmaiara.

Restavam apenas dois adversários, mas meu pequeno combatente estava visivelmente cansado.

— Dispare o Water Gun no menor! Depois venha aqui.

Quando o jato de água pressurizado foi mirado na direção do crustáceo mais inofensivo, aquele com características de um boxeador colocou-se à frente, defendendo-o com um domo luminoso tal qual Vhagar era capaz de evocar. Com o distanciamento deles e a aproximação do Chewtle, pude abaixar-me para lhe dar um pequeno auxílio. Borrifei em seu casco o conteúdo líquido do único frasco medicinal que eu possuía. As vitaminas presentes naquele remédio eram tão fortes que faziam os Pokémons recuperarem parte de suas energias quase que instantaneamente.

— Ele está vindo. Defenda-se com o Protect, depois morda e arremesse ele. O Chewtle parecia confiar em mim cada vez mais para lhe orientar, e assim o fez.

O Corphish mais experiente tentou golpeá-lo com sua garra, mas encontrou apenas uma barreira para atacar. Não satisfeito, assim que a cúpula de luz desapareceu, acertou a cabeça do aquático com a outra pata. O Double Hit era de fato sua especialidade. Quando finalizou sua movimentação e ficou vulnerável, Vhagar abriu a grande boca e mordeu a parte inferior do seu membro esquerdo. Com um solavanco, o arremessou para o alto deixando-o completamente exposto. O crustáceo menor observava choroso.

— Headbutt!

Fora uma finalização e tanto. O aquático calculou o tempo perfeitamente, aguardando o oponente escarlate estar próximo da queda para saltar, cabeceando-o com força na região do tórax. Quando este chegou ao chão, estava inconsciente. Vhagar já se preparava para investir contra o remanescente, que permanecia acuado sem reações, mas o interrompi. O pobre e pequeno Corphish estava assustado com a situação e não tinha intenção de ataque, então não havia motivos para continuar com aquilo e possivelmente acabar lhe gerando traumas.

— Chega, pararemos por aqui. Para minha surpresa, ele não pestanejou.

Considerações escreveu:— Utilizado 1x Potion em Vhagar visando maior coerência em relação ao HP.
— Decidi finalizar a batalha/evento em si aqui para não ficar muito cansativa a leitura, mas fecharei as pequenas pontas soltas da interação no próximo post.

mbora Vhagar houvesse acatado minha decisão, mantinha-se em guarda e atento para com o Corphish remanescente. Talvez agora que o pequeno Chewtle saíra vitorioso de um embate como aquele, passasse a entender que não devia agir por impulso, mas sim meticulosamente e sendo guiado por alguém com um olhar mais amplo da situação. Quando passei por ele para tomar em mãos as pokéballs lançadas anteriormente, pude sentir uma espécie de respeito da tartaruga para comigo.

— Você foi formidável.

Com as esferas metálicas dispostas em minhas palmas, recordei-me da bravura do crustáceo líder da horda. Ele era dono de um talento natural que, lapidado, podia tornar-se ainda mais digno de admiração. Era isso que eu buscava para os Pokémons marinhos e, com ele ao meu lado, sabia que a construção dessa jornada rumo ao reconhecimento tornaria-se um pouco, somente um pouco, mais fácil. Decidi que o manteria em meu time, mas permitiria que o segundo capturado retornasse à natureza. Com um clique no botão central do objeto, liberei o Corphish.

— Pode ir, amigo. Está livre. Sinalizei, enquanto pressionava as extremidades da pokéball de modo a forçar seu rompimento.

O crustáceo sequer titubeou. Afastou-se de mim usando suas pequenas patas para se locomover até os demais companheiros, acordando-os para que seguissem seu caminho. Embora ainda atordoados, logo se levantaram e me deixaram para trás, sumindo após dobrarem a esquina à direita. Vhagar bradou algo, talvez gabando-se de sua vitória sobre eles. Para minha surpresa, assim que girei nos calcanhares para seguir meu próprio caminho, deparei-me com Harrick parado observando-me silenciosamente com seu olhar crítico.

— Talvez você não seja um caso perdido. Com seu tom sério, aquilo soou de maneira que longe poderia ser considerado um elogio. — Conheço um local que serve um bom café. Me acompanha? Independente de eu verbalizar um aceite, virou-se e começou a caminhar, deixando-me para trás. Se não fosse do meu interesse o seguir, também não seria do dele, percebi.

Enquanto caminhávamos ao seu ritmo, contive minha ansiedade em lhe questionar sobre diversas coisas. Percebia que Harrick era um homem completamente reservado, então achei que faria bem em não formular questionamentos que talvez pudessem abordar campos desconfortáveis para ele. Inicialmente, deixaria que conduzisse nosso contato e conversa de acordo com suas próprias vontades, para só então, quando me permitido e diante de um clima mais ameno, eu sanasse minhas dúvidas a seu respeito. Se havia algo que eu tirara muito proveito durante minha criação, era da educação e daquele dito popular no qual orienta-se escutar os mais vividos. Em silêncio nos mantivemos ambos, rumando até o local onde possivelmente eu acabaria entendendo um pouco mais sobre aquele mistério.


Quando a jovial atendente serviu nossa mesa, o aroma característico do líquido subiu até meu nariz, que o abrigou de bom grado. O cheiro era revigorante. Harrick depositava uma quantidade miníma de açúcar em sua xícara, misturando-o com a pequena colher descartável por meio de movimentos breves e vagarosos. Sua calma era palpável, e eu gostava de a sentir.

— Como deve ter ouvido, vim de Magomedov e me instalei em Seaquanis há cerca de cinco meses. Falava como quem iniciara a narrativa de um conto, ainda adoçando seu café. — Treino Pokémons que portam o tipo gelo desde jovem e quando ouvi a seu respeito, minha curiosidade foi despertada frente a sua suposta afeição pelos Water-Type. Parou para provar um gole do expresso, aparentando estar satisfeito com o nível de doçura. Depois de depositar a colher sobre o pequeno pires de porcelana, prosseguiu. — Mas confesso que desapontei-me por não me deparar com nada de especial.

Olhou-me então diretamente nos orbes, analisando-me. Seria uma situação constrangedora para pessoas comuns, mas eu era diferente dos demais em mais aspectos do que podia contabilizar nos dedos. Não me senti desconfortável com seus olhares analíticos, pois em seus glóbulos negros, identifiquei a mesma sabedoria que notara anteriormente no Centro de Batalhas. Havia algo naquele homem que me coagia a respeitá-lo, e isso fazia com que suas palavras não fossem tomadas por ofensas até que eu entendesse seu intuito com tudo aquilo.

— Esperava um oponente sábio no aproveitamento das habilidades características dos aquáticos, mas você não foi capaz de combater nem mesmo Hazel, que é uma criatura marinha.

Seu comentário soara como um soco no estômago. Como eu queria provar aos demais a força dos Water-Type quando nem mesmo sabia lidar com um pertencente da categoria? Era um choque de realidade ter essa pergunta formulada na mente, mas isso não invalidava minhas motivações.

— Eu não tenho como contrapor sua constatação, mas meus sentimentos por eles são reais. Meus olhos rubros fixaram-se nos negros dele. — Por ser um cientista e biólogo, me falta experiência em batalhas, sendo este o motivo da minha visita ao Centro hoje mais cedo. Quero aprender como fazer isso e compartilhar com todos o quão admiráveis são esses Pokémons.

Harrick se manteve em silêncio, pensativo. Os traços duros em seu rosto não vacilaram sequer por um segundo, mas a boca comprimiu-se levemente após minha declaração. Levou a xícara até seus lábios secos, tomando mais um gole do líquido quente antes de tornar a falar.

— Em Magomedov, Pokémons do tipo gelo são tão comuns quanto os daqui para os habitantes de Seaquanis. Entendo a sensação de vê-los sendo subestimados.

Fora por isso que ele se interessara em mim? Talvez minha imagem refletisse a Harrick seu passado, quando ainda era inexperiente e incapaz de mostrar aos outros uma visão que somente seus olhos tinham. Imaginá-lo nessa situação era algo estranho. O homem demonstrara ser tão habilidoso e convicto de todo o cenário em nosso confronto que mentalizar algo assim parecia até mesmo uma atitude errada. Felizmente ele me tirou de meus devaneios.

— Se o que abriga em seu coração é de fato o que diz, estou disposto a ajudá-lo. Com um movimento breve, finalizou o restante de café que ainda se encontrava em sua xícara. — Teremos uma batalha em dois meses. Dentro desse período, treine e conheça melhor os pontos fortes e fracos de seus Pokémons. Somente disponibilizarei parte do meu tempo caso demonstre ser merecedor e esforçado o suficiente para isso.

Ele levantava, ajustando o cachecol branco em torno de seu pescoço. Com a bengala em mãos, deu-me as costas para ir embora. Não havia mais o que ser dito ou mencionado, sua condição fora clara e concisa, ficando somente a cargo de minha responsabilidade tê-lo como tutor ou não. Antes que partisse, porém, pareceu lembrar-se de algo.

— Se me permite um conselho: respirar novos ares talvez possa te fazer bem e ampliar um pouco suas perspectivas.

E partiu, deixando-me ali com um outro enigma, agora que aquele a seu respeito estava esclarecido.

CONSIDERAÇÕES escreveu:— Libertei o segundo Corphish capturado;
— Harrick será um Tutor para Lucian no futuro, ficando em stand-by por hora.

nquanto finalizava meu café, tive a atenção chamada pelo volume do televisor que se encontrava disposto ao fundo, numa altura suficiente para que os clientes pudessem assistir o que ali era apresentado. No momento, atualizações aleatórias do Dexit estavam sendo exibidas. Dentre elas, cativou-me a cena de alguns Azurill saltitando pelo o que deveria ser um campo de esportes, dada a grama sintética presente nele. Alguns jovens tentavam alcança-los, mas todos sem sucesso diante das acrobacias dos pequenos camundongos. Infelizmente não fui capaz de entender mais sobre aquilo, pois logo outras filmagens tomavam a tela do aparelho, entretendo aqueles que as assistiam.

Quando minha xícara ficou vazia, realizei o pagamento por ela e solicitei pela Pokédex um veículo para retornar à minha casa. Em cerca de dez minutos, lá estava ele com uma IA o conduzindo.

— Residencial Riverdeep, por favor.

Deixei uma fresta na janela para que pudesse ser agraciado com as brisas geradas pela locomoção do carro, perdendo-me em pensamentos a respeito de Harrick e sua orientação. Respirar novos ares, dissera.


Na entrada para o prédio no qual meu apartamento se encontrava, foi debitado de minha conta pessoal o valor pelo serviço de transporte. Tão logo fiz o pagamento, a IA manobrou o carro e seguiu para um novo destino. Diante da porta eletrônica, digitei a senha fornecida aos moradores para que entrassem, ouvindo um click na sequência que indicava o destravamento da mesma. Enquanto subia os degraus, não pude deixar de ouvir uma conversa no mínimo curiosa de duas mulheres, vizinhas, que falavam em frente as suas portas.

"— Eu não acredito muito não, mas passei repel nas portas e janelas tudo, porque vai saber né..."

"— Ah, eu morro de medo dessas coisas paranormais. Já mandei meu marido comprar também, porque se eu ver um desses fantasma eu caio dura na hora!"

O vocabulário e modo de falar dos cidadãos não tão instruídos sempre é um deleite aos ouvidos por sua simplicidade. Por mais interessante que soasse, seria indelicado ficar para ouvir o resto da história que segredavam uma à outra, então segui travando uma batalha contra aquilo que parecia ser uma infinidade de degraus até, enfim, chegar em frente ao apartamento 16 - a contagem ali se dava de forma contrária ao costumeiro, iniciando pelo duzentos até que chegasse ao um, que ficava no topo.

Teria um resto de tarde e noite habituais pela frente, repleto de afazeres comuns que iam desde preparar algo para o jantar, até tomar um banho relaxante antes de descansar em meu leito. Nada de pesquisas e grandes movimentações cerebrais pelo o resto do dia, decidira no carro enquanto me locomovia até ali.

s planos de manter-me na inércia até o fim da noite foram completamente frustrados após um bip emitido pela Pokédex. Em seu visor, a notificação de uma mensagem enviada por um homem nomeado Robbert Kravinzk. Sentado na mesa da pequena cozinha, achei que fazia bem em saber de quem se tratava antes de realizar a leitura de seu texto. Na atualidade, era comum que arquivos spam fossem enviados visando burlar a segurança de nossos dispositivos a fim de roubar dados. Deixei o copo com um suco natural que fizera de lado e dedilhei a tela do aparelho até entrar no perfil do remetente.

Tratava-se de um cientista residente de Limford, mestre em observações climáticas e seus estudos. Pelo o que pude ver em sua página, realizava um trabalho sério e tinha algum renome. Retornando para sua mensagem, deparei-me com algumas informações e especulações a respeito de uma espécie de Pokémon com uma habilidade específica, capaz de mudar sua própria estrutura corporal de acordo com o ambiente no qual está inserido. Havia também um breve comentário, de longe algo bem formulado, a respeito de ter descoberto uma particularidade na espécie em suas próprias pesquisas.

— Impressionante.

No fim do texto explicativo, destacava-se um convite para que me juntasse, a princípio remotamente, à equipe de pesquisa que cuidaria daquele assunto, aprofundando-se para entenderem melhor toda a questão levantada. Embora eu não fosse uma pessoa que tende a assustar-se com boas surpresas, precisei tossir o suco que tomava no momento. Era uma oportunidade e tanto caso eu conseguisse demonstrar que tinha conhecimento e estava apto o suficiente para contribuir com os estudos. O pensamento de colocar em prática minhas habilidades como cientista encheu-me de uma energia que logo decidi onde a canalizaria.

Stellmaria, Vhagar e o Corphish recém capturado jaziam em sua pokéballs, o que proporcionava-me um ambiente de total silêncio no apartamento, exceto por pequenos e breves ruídos externos. Liguei meu computador e alonguei os braços, sentando-me na cadeira de frente para as pequenas telas dispostas à minha frente. Integrei então o eletrônico com a Pokédex, o que me permitia utilizar algumas funções do aparelho para realizar consultas e demais ações por meio da voz.

— Pokédex, lista de Pokémons com a habilidade Forecast.

No monitor inferior direito, apenas um resultado apareceu na listagem: Castform. Tratava-se de um Pokémon que realmente era capaz de reorganizar sua própria tipagem de acordo com o clima presente no local. Magnífico.

— Pokédex, dados a respeito do genótipo base. Faça uma lista das possíveis alterações climáticas e como a estrutura física principal age diante delas.

E assim mais um trabalho de pesquisa se iniciava. Conforme o aparelho dispunha as informações solicitadas nas telas, meus atentos olhos rubros faziam a leitura, analisando o que estava sendo apresentado e separando o que podia ser utilizado, daquilo que deveria ser descartado. Aos poucos, o material começava a tomar forma e ser estruturado de modo a tornar-se de fato um estudo científico.


Precisei de aproximadamente quatro horas para finalizar aquilo. Coletara dados que julgava serem bastante úteis para possíves esclarecimentos e talvez descartes de teorias. Com alguns clicks no mouse e digitações no teclado, enviei o arquivo para o IP de Kravinzk. Restava agora torcer para que o material o impressionasse o suficiente a ponto de reconhecer-me como apto a integrar seu time.

SOBRE OS CASTFORM escreveu:
Castform é um Pokémon capaz de alterar sua aparência e características físicas com base no clima no qual está inserido. Seu corpo é composto de células semelhantes as das moléculas de água, o que permite que sua estrutura celular seja quimicamente reorganizada pela temperatura e umidade. Embora não tenha controle sobre as possíveis mutações, usa essa capacidade para se adaptar e sobreviver diante das diversas situações climáticas que para outros podem ser fatais a longo prazo.


Em sua Forma Normal, assemelha-se a uma nuvem cinza simples, com um único fio que se estende do topo de sua cabeça.


Sob a luz do sol, tem sua tipagem alterada para Fire. Sua metade inferior torna-se branca pura, enquanto a cabeça fica laranja e desenvolve pequenas esferas laranja ao seu redor. Isso dá a aparência geral do sol acima de uma pequena nuvem. Sua pele brilha, torna-se seca e fica quente ao toque.


Quando está sob pancadas de chuva, assume o tipo Water. Sua metade inferior torna-se cinza escura, se assemelhando a uma nuvem de tempestade carregada. O crânio assume o formato de uma gota de água, tendo como principal característica ser aquoso e escorregadio. A temperatura do seu corpo varia de acordo com a temperatura ambiente durante a chuva.


Quando presente em meio a uma nevasca, sua tipagem se altera para Ice. A cabeça ganha tonalidades de azul-púrpura e o resto do corpo se transforma em uma espécie de nuvem cúmulo-nimbo, tornando-se macio como a neve, porém mais rígido. Sua temperatura corporal abaixa para aproximadamente -5ºC.

Independentemente da forma adotada, sempre apresentará uma cabeça grande e esférica e uma marca de máscara de cor mais clara sobre os olhos.

Enviei o arquivo com aquela famigerada sensação de dever cumprido no peito, ansioso por um retorno a respeito do mesmo. Após desligar o computador, fui até a cozinha para finalizar o copo de suco que deixara jazido sobre a mesa, mas não o encontrei ali. Confuso, acabei achando-o sobre o pequeno balcão que ficava disposto rente a parede, próximo a pia. Não recordava de tê-lo deixado ali, mas era possível que o tenha feito no momento de agitação após receber a mensagem do cientista. De qualquer forma, inseri duas pedras de gelo nele e o tomei rapidamente, pois meus olhos ardiam clamando por uma boa noite de sono.

Como já havia me banhado no começo da noite, fui até meu leito e acionei o alarme na Pokédex para que acordasse por volta das 10:00h no outro dia. Com o cobertor macio tocando a pele, virei-me de lado, observando através da janela a vista da cidade repleta de luzes. Bastava agora relaxar e esperar que minhas pálpebras se tornassem pesadas o suficiente para enfim adormecer.

Quest escreveu:
O Chamado de Cima (Fácil)
Recompensa: 35 Bitcoins.
Premissa: Post Comum. (Possibilidade de Viagem à Limford e, a depender, para Aus Etella)
Descrição: Você recebe uma mensagem de um cientista de Limford mestre em observações climáticas da cidade. Ele levanta algumas hipóteses sobre uma espécie incrível de Pokémon com a habilidade Forecast, tornando-o capaz de adaptar sua própria tipagem ao clima em que está inserido. Entretanto, no meio das pesquisas, acabou descobrindo algo a mais... de qualquer forma, um convite foi-lhe enviado para fazer parte da equipe de aprofundamento da questão, sem muitas regalias a princípio, mas com possibilidade de contratação.