[CP] 2. Visitando o Centro

A primeira coisa perceptível ao chegar no centro: diversos shinx fugindo de pessoas desesperadas para ganhar likes. Revirei os olhos. Em uma sociedade como a nossa, ficar na base da pirâmide não era agradável. Literalmente, "eles que lutem". Desci do táxi na entrada do centro. A ideia era, antes de eu encontrar o Andrew, olhar umas lojinhas. Coisa básica.

O centro de Detroya possuía seu próprio centro para chamar as atenções. Um dos setores mais movimentados e agitados do bairro. As ruas escondiam estrelas, mas também revelavam a escória. Por isso, aqui, ser visto é tudo. Fazer a coisa certa na frente dos olhos certos poderia mudar a vida de uma pessoa. Por isso, aqui sempre é movimentado. Eu diria que um tanto poluído visualmente. Ok. Talvez eu estivesse sendo enjoada, mas essa movimentação toda, de diferentes tipos de pessoas desesperadas por atenção, era um pouco desconcertante.

— Ei, você aí!!

"Huum... será que essa loja de sapatos é boa? Mas o que está na vitrine é tão eer"

— EU TO FALANDO COM VOCÊEEE!!! — Uma garota, que estava gritando, de forma muito histérica inclusive (eu hein), parou ao meu lado. — Eu vi as suas fotos. Você é famosinha, né?

Olhei por cima dos óculos e vi que se tratava de uma garota que aparentava ser uma adolescente, tavez 12 ou 13 anos. Os olhos pareciam brilhar. "Estranha".

— Mais ou menos isso. Você acompanha meu trabalho?

— Eu nao. Só vi você na internet e decidi que preciso te derrotar pra ser mais famosa! — a garota respondeu de forma entusiasmada e sem receio algum.

— O quê?? — Sim. Eu não imaginaria uma coisa dessas. Mas vindo da cabeça de uma adolescente, tudo é possível.

— Isso mesmo. Vamos batalhar aqui e agora. Isso vai chamar atenção. E quando EU derrotar VOCÊ, ganharei uns 100 seguidores no mínimo!! — e começou a rir como se tivesse revelado um plano infalível de dominação mundial.

— Éerr, okay, mocinha. Posso ao menos saber o seu nome?

— Letícia. Letícia Van Hallen. — A garota falava alto. Dadas as circunstâncias, eu não poderia ser grossa ou recusar um convite como esse. Letícia começou a pedir para as pessoas abrirem espaço. Todos sabiam o que iria acontecer e já faziam uma roda para assistir. — Vamos começar então! Vaaaai, Lari!

A pokéball abriu e liberou uma energia azulada que materializou um Indeedee. "Credo". Indeedee é horrível. A pokémon emotion fez uma cara blasé quando olhou para as pessoas ao nosso redor.

— Aldebaran? — O cachorro só virou o rosto. Não posso contar para nada mesmo. Alcancei a pokéball que estava em minha bolsa e a liberei lançando-a para cima. — Venha, Donatello! — O murkrow surgiu crocitando e sobrevoando as pessoas. Bati minha mão no rosto quando percebi que ele estava com meu colar e três anéis. A ave acabou chamando atenção. Não eram todos os dias que as pessoas viam um murkrow com joias. — Faça as honras.

— Hum tá bom. Não vá se arrepender depois. Lari, vamos começar com o Play Nice. Depois revele sua bela voz com o Disarming Voice!

Devido à velocidade como as coisas aconteceram eu havia esquecido completamente que eu não sabia do que o Donatello era capaz de fazer. Enquanto aquela pokémon esquisita fazia uns movimentos amigáveis para o murkrow, peguei a pokédex, ativei o modo de consulta e apontei para a ave. "huuum"

— Donatello, use o seu mean look e depois mergulhe em direção à Lari com seu wing attack.

Eu acreditava que os movimentos amigáveis da Indeedee eram apenas um show, mas quando chequei o battle mode da pokédex, vi que o stat de attack do murkrow havia diminuído. Eu não entendia muito bem o peso disso para a batalha, mas bom não era, né? Os olhos do Donatello brilharam num tom roxo e logo desapareceram. "Só isso? Parece que esse mean look não serve pra muita coisa. Depois lerei sobre." Logo após, Donatello deu um giro no próprio eixo e desceu em direção à Lari com as asas brilhando. As pessoas ao redor começaram a tirar fotos da pequena acrobacia da ave. E isso acabou me dando ideias. Antes de atingir o alvo, o murkrow acabou sendo interceptado pela estridente voz da Indeedee. Sim, era horrível. Horrível a ponto de fazer Donatello se desequilibrar e cair no chão. Sinceramente? Ninguém gostou daquela "bela voz". O pior é que a dex informou que aquilo ali era super efetivo contra o murkrow. "Vou precisar evitar isso..."

— Fraquinho demais hi hi hi — Letícia debochava enquanto dava pulinhos de vitória.

— Donatello, use seu Haze e se oculte da visão da Indeedee e tente acertá-la novamente com suas asas.

— Que ocultar o quê! Lari, use seu psybeam e não deixe esse urubu fugir.

— Quem você tá chamando de urubu? Ele é um corvo, garota. Isso o que dá deixar de ir pra aula pra procurar batalha no centro. — "Ela acabou de me mostrar a lingua?"

Donatello se moveu rapidamente do chão, checando se estava com todos os anéis, e logo liberou a neblina no campo. Ouvir murmúrios da "plateia" por não conseguirem enxergar direito. Na dex, vi que o stat de attack havia normalizado. Aos poucos eu estava pegando o jeito. A neblina não era muito espessa e também não durava muito tempo, entretanto, fora o suficiente para fazer com que a Indeedee errasse a mira do seu psybeam e "ela quase acertou uma pessoa meu deus!!!" Eu ainda estava surpresa com a quase lesão causada quando ouvi a Indeedee gritar. Virei o rosto e vi que o murkrow havia acertado em cheio a psíquica e a havia jogado na direção de Letícia.

— Já deu? Tenho umas compras pra fazer.

— Nada disso! Anda, Lari, levanta! Use seu disarming voice e acabe de vez com ele.

— Donatello, libere seu Haze girando, se oculte e use night shade.

Crow?

A ave era mais ágil. Com um gracioso giro no próprio eixo, a neblina fora liberada causando um efeito levemente afunilado. Percebi os flashes das câmeras das pessoas. Logo em seguida, uma terrível imagem emergiu da neblina. A sombra de um corvo demoníaco com dois pares de olhos vermelhos e ameaçadores. Era um pouco desconcertante. Mais uma vez eu ouvia as pessoas ao redor dando suas opiniões. Percebi que a Indeedee continuou apática olhando a figura monstruosa que surgira da neblina. A dex havia informado que ela era imune a esse tipo de ataque. “Como que as pessoas conseguem decorar tantos detalhes?” O disarming voice continuou avançando na direção da neblina e a atingiu em cheio. Ouvi o crocitar do Murkrow e logo o vi em queda livre.

— A vitória é nossa, Lari!! Somos as melhores! — Lari se virou para Letícia, ainda com a expressão apática, e fez um sinal de “joinha”.

— Donatello! — Eu estava preocupada. Se ele atingisse o chão daquela altura, poderia se machucar muito. Peguei a pokéball dele e, quando eu mirei em direção a ele, vi que ele piscara para mim. “Isso é um truque?” Ele não esperou alguma ordem minha. Com um bater de asas retomou o equilíbrio e avançou em direção à Indeedee que estava distraída com a treinadora.

— Lari, cuidado!

Já era tarde. A ave atingiu a psíquica pelas costas conseguindo um dano crítico. A indeedee apenas caiu no chão cansada, assim como o Murkrow. Corri em direção a ele e o tomei em meus braços. Ele estava exausto, mas fazia uma expressão de sucesso. Apenas fiz um carinho em sua cabeça e o retornei para a esfera.

—  Laaarii! — Letícia correu em direção à psíquica e a ajuda a se levantar. — Isso não é justo! Foi golpe baixo!

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, as pessoas ao nosso redor começaram a aplaudir e ovacionar. Alguns pediam por um bis. Letícia parecia se inebriar com toda aquela animação.

— Vamos considerar isso um empate, então? — De alguma forma, mesmo sendo uma adolescente desmiolada, aquele olhar e expressão animada acabaram me cativando. Eu não vivi isso, sabe? Essa garota tinha um sonho. Eu? Eu tinha ordens...

— Como eu sou muito boa, vou deixar assim. Mas só dessa vez, viu? — Ela piscou para mim enquanto mostrava a língua de forma... fofa (?). Apenas sorri. A garota retornou a indeedee para a pokéball e saiu correndo animada por entre a multidão gritando que havia empatada numa batalha contra a Violet.

A batalha havia acabado e as pessoas começavam a dispersar. Em minhas mãos, a pokéball de Donatello. Ele havia se esforçado na batalha e aparentou estar muito exausto. Eu precisava encontrar um lugar onde pudesse tratá-lo. Pesquisei na pokédex e vi que há centros de tratamento para pokémon. Liguei o GPS e passei a seguir as direções. As roupas poderiam esperar.

Durante o caminho, vi que mais batalhas ocorriam. Fiquei surpresa que algumas pessoas faziam verdadeira arte nas lutas com os pokémon. Outras pessoas faziam vlogs apresentando algo, fotos para alimentar o Dexit. Se isso não bastava, ainda haviam as propagandas que saltavam sobre nós e praticamente tentam nos coagir a comprar algo. As ruas não ficavam paradas. E percebi que nem mesmo minha dex ficaria parada. Ela tocou notificando mensagem.

andrew is online Tá por onde? Estou indo pro centro pokémon. preciso curar o Donatello fui interceptada por uma garota rs precisei batalhar Você? Batalhando? Essa eu pagava pra ver Bobo sou uma nova mulher lol Sei kkk Tô aqui em frente ao shopping Okay, honey

Continuei a seguir pelas ruas movimentadas até chegar ao centro pokémon. O local era muito bem organizado, possuía um cheiro típico de local higienizado, mas a decoração não me remetia muito aos hospitais convencionais. Não me importei muito em olhar o lugar em si, só queria ir embora logo. Me aproximei da recepção e fui informada que o tratamento custaria B$4 bitcoins. Baratinho. Espero que o serviço seja bom para cobrarem tão barato assim. Entreguei a pokéball de Donatello e, após alguns minutos de espera, a recebi de volta.

Chamei um táxi e logo cheguei ao ponto de encontro. A entrada para o shopping era uma confusão. Muita gente saindo e entrando, mas mesmo que fossem há milhas de distância, eu reconheceria aquele homem fumando. Me aproximei dele já tomando o cigarro de sua boca.

— Fumando escondido? Já te falei que isso vai destruir sua pele e seus pulmões.

Andrew me olhou com aquela expressão de safado como sempre.

— Bem, eu meio que não estou escondido. — Sorriu. — Foi uma recaída. Tá acontecendo umas coisas aí...

— Quer falar sobre?

— Não quero estragar esse nosso encontro com bobagens. — Falou enquanto se aproximava me envolvendo em seus braços. Andrew sempre achava que tinha o dever de me proteger das coisas. Evitava falar de seus problemas.

— E o nosso encontro vai ser no... — Olhei com desdém para a entrada do shopping.

— Claro que não, bobinha. Olhe ali. — Ele me virou para a direção oposta ao shopping que dava para um grande hotel de luxo.

— Andrew! Você me chamou pra isso? — Sorri enquanto batia em seu peito.

— A mente poluída aqui está sendo você. Confie em mim.

Ele tomou minha mão e me guiou para dentro do hotel. Na recepção, apenas informou um número para a IA e recebeu um cartão. Já no elevador percebi que teríamos uma longa subida. 54 andares para ser mais exata. Então aproveitamos um pouco o nosso momento no elevador para trocas de carícias. Somente carícias ok. Tenho uma imagem a zelar.

— Cobertura, Andrew? Onde você arrumou dinheiro pra isso?

— Shh... apenas aproveite o momento. — Ele passou o cartão e a porta se abriu para nós.

O apartamento era incrível. A primeira coisa que gritava chamando a nossa atenção era a enorme janela que servia de parede para o lado de fora. Dali, tínhamos uma visão privilegiada de Detroya. Era tão... lindo. O Sol já estava encontrando o seu ocaso o que deixava o céu e a cidade iluminada com os tons alaranjados.

— Acho que gostou, não é?

— Andrew, por que tudo isso? Esse quarto deve ter custado uma fortuna.

— Eu já disse para não se preocupar. — Ele se aproximou da janela e a tocou com uma de suas mãos. Os olhos brilhando num tom azul claro miravam o horizonte. — A gente já se conhece há um ano e cinco meses... — Falava sem desviar o olhar do horizonte. — Acho que não deve ser surpresa pra você, mas eu sempre fui mulherengo. — Riu de si mesmo. — Mas aquele desfile da Valentina... quando eu vi você... foi a primeira vez que eu me senti inseguro em chegar numa mulher. — Se virou em minha direção. Os olhos num tom rosa. Eu sabia muito bem a função que essa cor indicava. O safado estava analisando meus batimentos cardíacos pra saber se estava indo bem. — Desde então, ter você participando de minha vida tem sido incrível. Por isso... — Ele levou as mãos para o bolso. “Ai meu deus... não acredito....” Andrew de ajoelhou, olhou em meus olhos, mas desta vez com seus próprios olhos sem emitir nenhum brilho, e me mostrou uma pequena caixinha. — Violet, você aceita me namorar?

O Sol já havia se ocultado deixando o céu pintado em tons escuros e a cidade se acendia em vermelho e azul. As luzes do apartamento se acenderam automaticamente. E cá estava eu diante de um homem ajoelhado aguardando minha resposta.

— E-eu não posso... não posso, Andrew. Não podemos fazer isso. — Virei de costas para ele. Não queria que ele me visse lacrimejar.

O silêncio imperou naquele lugar por alguns segundos.

Eu não queria ferir os sentimentos dele, mas dada a minha situação... eu não poderia engajar um relacionamento. Mas também eu não poderia deixar o silêncio falar por mim ainda mais. Entretanto, quando me virei, fui surpreendida por um abraço de Andrew. E ali eu me perdi. Ali eu queria ficar...

— Me perdoe por ter colocado você nessa situação. — Falou ainda me envolvendo no abraço. Percebi que o tom de sua voz estava mais baixo, mais... triste. — Eu fui precipitado, não? — Desatou o abraço e falou de forma engraçada. Eu sabia que ele estava forçando para parecer que estava tudo bem. — Talvez deve haver outros caras, ou talvez eu não seja b...

O calei com um beijo. Eu não queria que ele se depreciasse ou criasse mil e uma hipóteses sobre eu não ter aceitado seu pedido. Eu estava na pior situação possível, pois o único motivo que justificava minha negação não poderia ser dito. Mas eu poderia falar meias verdades...

— Andrew, você sabe que eu sou uma influencer e que existem contratos que não permitem relacionamentos e...

— Não vá me dizer que isso também tem a ver com Savos?

— N-não com ele, mas com meu trabalho e...

— Pois bem, então me fale a verdade. Você não aceitou o meu pedido por causa de Savos?

Os olhos do homem ganharam uma tonalidade amarela. Ele usava isso para detectar mentiras. Ele sabia o quanto eu odiava usar isso comigo, mas eu também sabia o quanto ele odiava as coisas relacionadas ao sr. Savos interferirem na minha vida.

— Claro que nã...

— Mentira! Violet, você gosta de Savos?

— Andrew, pare com isso. Minha relação com o sr. Savos é estritamente profissional!

— Mentira! — Seu tom de voz fraquejava. Ele queria desabar, mas estava se segurando. — Violet... — me encarou diretamente em meus olhos. — você me ama?

Os olhos dele perderam o brilho amarelado. E apenas esse medo e incerteza dele quanto à minha resposta foram o suficiente para atingirem meu coração.

— Não... não precisa responder... Eu só preciso ficar só um pouco.

— Andrew, deixe eu me explicar...

— Por favor, Violet. Agora não...

Eu deixei o apartamento. Ao olhar para trás, apenas vi o homem contemplando a cidade iluminada pela janela. Aquele era o homem que despertou os melhores sentimentos dentro de mim. Ele me ensinou a sorrir com as câmeras desligadas. Ele acolheu as minhas lágrimas quando nem ao menos sabia o motivo delas. Ele era o homem por quem eu daria a minha vida, se ela fosse minha...

Eu não conseguiria descrever essa dor. Talvez somente aqueles que sabem o que é um coração partido. Era como se meu coração estivesse envolto por correntes e toda vez que eu respirava, eu o sentia apertar. Quando voltei às ruas, eu queria gritar, chorar. Bati com meu punho em meu peito. Eu queria poder arrancar o coração dali de dentro.

Eu só queria ir para casa. Chorar. Dormir. Acordar daqui há uns três dias talvez. Suspirei. “E por que não passa um táxi vazio, meu deus?”

— Ei seu ladrãozinho, volte aqui!

Ouvi a voz que me era familiar. Quando olhei em sua direção, reconheci Letícia correndo atrás de um pokémon listrado.

— Letícia, está tudo bem? — gritei para ela do outro lado.

— Vo... cê é devagar.... me aju.. da — a menina continuava a correr atrás do pequeno suposto ladrão. Eu não tinha muita escolha, não a deixaria ficar correndo por aí sozinha.

— Aldebaran, por favor, ladrão!!!

A energia azul surgiu de dentro de minha bolsa e o cachorro, assim que se materializou, começou a perseguir o pokémon. Corri também para alcançar o ritmo de Letícia. Perseguimos os pokémon até chegarmos a um beco. Para nossa alegria. Porque estávamos fatigadas.

— Ele, ele... — tentava recuperar o fôlego. — ele engoliu o anel da minha mãe.

Olhei em direção aos pokémon e apontei a dex para o ladrão. “Zigzagoon, huum”.

— Vamos recuperar pra você. — Sorri para ela. — Donatello, venha ajudar! — a ave se materializou no chão polindo os anéis. “Meu deus..” — Alô, só usa seu Mean Look nele ali. — O corvo virou a cara para o Zigzagoon fitando-o com seus olhos em tom avermelhado. Sim, eu agora sabia o que esse movimento fazia e seria muito útil para capturar esse danadinho. — Aldebaran, utilize seu Odor Sleuth e imobilize ele com seu Thunder Fang. — Olhei para Letícia. — Lari não vai ajudar?

Uma pequena energia envolveu o nariz do canino. O Zigzagoon sabia que ia dar merda e começou a correr, mas quando tentou ficar muito distante do Donatello, algo o impediu de prosseguir. Sem tempo para esquivar o roedor se virou para o atacante e lançou areia nos olhos dele. Felizmente, Aldebaran é cego, não faria muita diferença. O cachorro agarrou a pata do Zigzagoon e começou a balançar de um lado para o outro.

— Err... ela não foi curada ainda hehehe — a garota sorriu envergonhada. — Depois da nossa batalha eu não tive tempo de ir no centro pokémon. E mamãe não sabia que eu tinha saído pra batalhar hehehe

— Só um momentinho... — Me virei para o cachorro. — ALDEBARAN, NÃO MATE ELE! Donatello, ajude ele! O Zigzagoon, no caso. — Voltei minha atenção para a adolescente. — E você está a essa hora na rua sem sua mãe saber?

Donatello revirou os olhos e alçou voo. Com o bater de suas asas, fez surgir uma ventania que aumentou a velocidade dos dois em campo. Com as asas brilhando, seguiu em direção à briga. O Zigzagoon rosnou alto conseguindo se desvencilhar da boca do cão e desestabilizar o voo do corvo. Se manteve firme no chão e os pelos do seu corpo endureceram. Como espinhos, foram lançados em direção a Donatello que acabou tendo uma de suas asas atingida. Mas por focar em um, abriu a brecha para ser atingido por um Ember.

— Ela tá ali no shopping. Eu tava com o anel dela brincando... daí veio aquele pokémon ali e, num salto, engoliu ele.

— Entendo... mas você é muito nova para ficar longe de sua mãe. Ainda mais nessas ruas... becos. Somos mulheres, Letícia. Nunca fique só! — Olhei de novo para a batalha. Donatello parado no chão tirando os espinhos das asas. Zigzagoon sendo sacudido de novo na boca do cachorro. — Meu deus, gente, a ideia aqui era só imobilizar ele pra pegarmos o anel. — Me aproximei do Zigzagoon que estava cheio de baba. — Oi, mocinho, tudo bom? Você acabou pegando o anel da minha amiga e é muito importante para ela. Então você poderia devolv... — antes que eu terminasse de falar, o roedor usou a cauda para jogar areia em meus olhos. — Aaaah. Inferno...

Bem... eu não deveria ter dito aquilo. Aldebaran abriu um sorriso sádico. O cachorro fez surgir chamas ao redor do Zigzagoon ainda em sua boca e o bichinho começou a gritar.

— Letícia, corre aqui!

— E eu vou fazer o quê??

Fiquei desesperada quando não ouvi o zigzagoon gritar mais.

— Larga ele, Aldebaran. Cachorro mau.

O cão largou o roedor no chão. Ele não se mexia. Eu tinha que pensar duas vezes antes de usar Aldebaran numa batalha, porque ele não sabe brincar.

— Olha, as queimaduras e os machucados estão sumindo!

De fato. Me aproximei do pokémon e parecia que ele estava novinho em folha. Chequei a Dex e vi que alguns zigzagoons tinham um movimento que faziam eles se recuperarem ao induzir ao sono. Letícia abriu a boca dele e viu que o anel não estava mais ali. Ela olhou com cara de choro para mim.

— É... vamos ter que esperar sair pelo modo natural. — Sorri para ela. — Para garantir que ele não vá passar a perna em nós, vou tentar manter ele comigo. — Peguei uma pokeball vazia e toquei no pokémon adormecido.

A esfera bicolou energizou o roedor adormecido e o trouxe para dentro. Após três sons seguidos, um quarto sinalizou a captura efetivada.

— Letícia, ainda acho bom nós darmos uma olhada por aqui. Talvez na bagunça da batalha, o anel possa ter caído em algum lugar.

Eu queria acreditar que eu não iria precisar pegar anel em cocô de zigzagoon. Assim, passamos a fazer uma pequena busca ali no beco. Felizmente, após alguns minutos, conseguimos encontrar o anel caído perto das lixeiras.

— Desculpa... você acabou tendo que capturar esse zigzagoon à toa...

— Não se preocupe com isso. — Sorri para ela. — Essas listras dariam um belo casaco não acha? Brincaderinha... Vamos, vou te deixar na entrada do shopping.

Quando nos viramos em direção à saída do beco, lá estava outro Zigzagoon rangendo os dentes e com os pelos espetados. Talvez um parente desse aqui? Eu não queria continuar perdendo tempo com isso, mas teríamos que forçar nossa saída.

— Donatello, vamos de novo! Use seu tailwind e ataque ele com seu wing attack.

O corvo, que ainda estava fora de sua pokéball, bateu as asas fez uma brisa avançar sobre ele e sobre o houndoom. O roedor saiu correndo em ziguezague em direção à ave mas brasas lançadas no chão o fez perder o ritmo e se preocupar em desviar do ataque de asas com um rodopio.

— Use seu Haze para ocultar o Aldebaran. — Me virei para o cão. — Salte com seu Thunder Fang preparado para imobilizar o Zigzagoon. Depois pode usar seu Inferno nele. Donatello, tente mais uma vez seu wing attack.

Enquanto a neblina se formava no campo, o roedor ficou sobre as duas patas e fez um sinal com as patas dianteiras para o houndoom. Alguma energia saiu dali e afetou o canino fazendo-o rosnar de ódio. Segundo a Dex, aquilo parecia ser o taunt. Segundo a descrição do movimento. as coisas poderiam ficar um pouco fora de controle agora. Aldebaran saltou sem ao menos esperar a neblina terminar de se formar. As mandíbulas liberavam as faíscas prontas para abocanhar o alvo, mas o roedor fora mais rápido e eriçou seus pelos para ficarem afiados e os atirou como espinhos atingindo a primeira rajada em cheio. Donatello aproveitou a oportunidade para mergulhar em direção ao alvo e atingi-lo com suas asas causando um dano crítico e empurrando-o contra as lixeiras.

— Está tudo bem, Letícia? — A garota parecia ansiosa enquanto assistia a batalha.

— Sim, sim hehe — falou enquanto apertava a pequena bolsa dela contra seu corpo. Repentinamente ela olhou assustada de volta para a luta. — Acho que seu cachorro ficou maluco.

Olhei em direção a Aldebaran e ele estava se envolvendo nas chamas do inferno. O Zigzagoon continuava a correr tentando fugir do corvo que tentava acertá-lo continuamente com o wing attack.

— Meu deus... ele pegou raiva?

— Eu não sei... — a garota olhava estática.

Ambas estávamos curiosas. Bem, eu estava com medo também. Se esse cachorro se matasse o que eu iria falar para o sr. Savos? O pior é que não tinha nenhuma fonte de água por perto.

— Donatello, use seu tailwind pra tentar diminuir o fogo no Aldebaran!

Crow??

Ele pareceu hesitar, mas bateu suas asas e fez a brisa surgir e envolvê-los novamente. Entretanto, não aconteceu como imaginei. As chamas ao redor de Aldebaran ficaram maiores e mais intensas.

— Dãã... Você não sabe que o ar alimenta o fogo?

— O quê?? Eu.. eu não sabia. Meu deus o cachorro vai morrer.

Esse definitivamente era o meu fim. Esse houndoom era um dos pokémon de confiança de sr. Savos. Como eu iria explicar isso? Tipo... doença de Zigzagoon?

Enquanto eu ainda pensava nas desculpas que daria, as chamas cessaram repentinamente. Aldebaran estava intacta. Tirando a cara maníaca. Apontei a Dex em direção a ele. “Flash fire hum”.

— Palhaçada... esse cachorro é imune a fogo.

Aldebaran invocou o inferno novamente, mas agora contra o roedor. O Zigzagoon conseguiu esquivar do movimento quase ileso. Apenas a ponta de sua cauda acabou queimando. Antes mesmo de pensar em contra-ataque, Dontatello o atingiu com outro wing attack e mais uma vez o dano crítico. O Zigzagoon acabou ficando exausto e desmaiou ali mesmo. Apontei a Dex para ele também. Digamos que o corvo tem uma habilidade que dá a ele muita sorte para executar golpes críticos. “Okay... só preciso descobrir em como usar isso para fazer umas apresentações.”

— Iaaá!

— Quê?— Me virei para Letícia que acabara de lançar uma pokéball no roedor.

A esfera fez o sinal sonoro três vezes e o quarto confirmou a captura. A garota correu e pegou a esfera segurando-a como um troféu.

— Agora eu também tenho um Zigzagoon. E será ele que destruirá sua carreira, Violet! HAHAHA

— Letícia... — falei com calma olhando para ela. — você é perturbada, more. Vamos logo para o Shopping antes que outro Zigzagoon apareça.

Enquanto saíamos do beco, aproveitei o momento para postar no Dexit as imagens que a Dex registrou.

Dexit escreveu:Foto 1: Aldebaran pegando fogo
Legenda: “Cachorro-quente. Servidos?”

Foto 2: Donatello após atingir o zigzagoon em seu último ataque crítico.
Legenda: “Sorte no jogo, azar no...”

“Meu deus, me gatilhei...”