[FP] Shazatan

O ambiente continuava um dos menos silenciosos de todos os ecossistemas de NeoZenos. A hostilidade da planície escarlate era um convite à morte e a melodia deplorável das poças venenosas eram como gemidos agoniantes de dor, mas isso não significava que não era belo e interessante. Meus passos faziam pouco barulho no terreno avermelhado e infértil. Meus olhos varreram toda aquela imensidão e minha mente construiu o que um dia fora uma bela floresta, colorida e convidativa, mas que a própria terra expurgara.

O que eu fazia aqui? Observava, obviamente. Esse era meu trabalho, afinal, e algo me chamou para esta região perigosa. O que era? Eu não fazia ideia, mas meus pés continuavam a andar e meus olhos seguiam varrendo os arredores em busca de qualquer pista do motivo de eu estar ali. Eu não tinha pressa. Foi quando uma poça de tonalidade diferente chamou minha atenção.

Tudo naquela região era vermelho, exceto os troncos pálidos do que um dia foram árvores, mas aquela poça era de um tom violeta opaco e não borbulhava. Ao me aproximar, notei o cadáver de uma criaturinha conhecida como oddish. O pequeno cadáver apresentava alguns furos, sinal de que fora esmagado por garras bem afiadas e notóriamente não havia sinais de que fora predado, apenas estava no caminho de algo muito violento.

Desequilíbrio.

Segui mais adiante e pude contar mais alguns cadáveres de pequenas criaturas esmagadas da mesma forma que o primeiro, mas alguns tiveram o sangue completamente drenado deseus corpos, exceto os gramíneos. Realmente, algo não estava certo ali e eu precisava reportar para meus superiores. Gigglebee acordou de seu sono e espantou-se quando, ao desprender-se de meu cinto e flutuar para fora da proteção de meu manto, ele viu os corpos das criaturas. Meu companheiro parecia incrédulo e chorou a morte dos inocentes. Reuni todos os cadáveres em um grande cículo mágico e fiz uma prece à Senhora do Descanso, oferecendo as almas daquelas criaturinhas. Sentado à beira do círculo, assim que o cântico fora encerrado, o círculo de corpos entrou em combustão e rapidamente pude vislumbrar as almas dos inocentes sendo guiadas por Gigglebee até a fenda espiritual do descanso deles, onde a Senhora tomaria conta de todos.

Ao fim do ritual, quando as chamas cessaram, senti um frio percorrer meu corpo e o cheiro podre da escuridão preencheu minhas narinas. Olhei ao redor e uma criatura de mesma coloração escarlate surgia a alguns metros de distância. Era disforme e aterrorizante fitar horrenda criatura totalmente banhada no sangue de suas vítimas. Enfim ela virou-se para mim e ficou parada, completamente estática, até que, em um piscar de olhos, ela estava com as garras apertando minha garganta enquanto soltava um grito agudo.

- SEN... TI... NE... LA... - a voz da criatura parecia falha e ofegante - MORRER... DE... VE... MORRER!



A criatura estava quase enterrando as garras na minha jugular, quando reuni forças e a ponta de meu cajado brilhou em um tom amarelado, o suficiente para chamar a atenção do olhar da criatura e eu eletrocutá-la à queima roupa, libertando-me. Caí no chão e consegui recuperar o fôlego, mas não tinha tempo para descansar, visto que a criatura já soltava mais um de seus gritos agudos e vinha direto em direção à minha garganta. Gigglebee foi mais rápido e afastou-a com sua brisa de fada, dando-me tempo para conjurar um pilar de fogo sob os pés da criatura, lançando-a ao ar e, em seguida, uma rajada de raio atingiam a carne pútrida da criatura que gritava em agonia.

- Criatura profana, volte para seu exílio! - ordenei.
- KYAAAAH!

Mesmo completamente ferida a sede de sangue da criatura falava mais alto e ela lançou sobre mim uma rajada de espinhos claramente venenosos sobre mim, mas o ataque fora interceptado pela barreira esmeralda erguida por Gigglebee. Apontei meu cajado para a criatura e iniciei movimentos giratórios, formando uma espiral de fogo, mas a criatura teleportou-se e mais uma vez avançou sobre mim. Consegui interceptar o ataque com meu cajado.

- SEN... TI... NE... LA... MORRAAA!
- Não partirei nesta tarde, demônio.

Esse foi o tempo necessário para que Gigglebee invocasse mais uma brisa de fada, afastando a criatura e, assim, consegui tempo para invocar um pilar de fogo sob os pés da criatura, derrotando-a, finalmente. Enquanto o corpo da criatura queimava, pude jurar ter ouvido uma risada ao fundo dos gritos de agonia da criatura. Com esse acontecimento, logo eu sabia que sairia em uma missão para buscar respostas de como um demônio estaria surgindo em NeoZenos. Era o primeiro que eu via em séculos.

- Foi uma bela batalha, Sentinela.
- O que faz aqui, Portador do Fogo? - o mago estava sentado sobre uma rocha saliente ali próximo.
- Eu tive uma visão de que o encontraria por aqui, então esperei. - eu podia jurar que ele estava sorrindo por debaixo daquela máscara - Você deveria ir vê-lo.
- Não é a hora certa, Portador.
- Ora, vamos Shatazan. Nós queremos você por perto. - ele pegou um instrumento de corda, dedilhando-o - Ele quer vê-lo, Shatazan.
- Ele quer me ver pelo motivos errados, Barwald. Apenas comunique sobre a presença de um demônio próximo às terras de seu Senhor.
- Ele também é o seu Senhor, Sentinela. Não esqueça disso.

E quão rápido quanto durgiu, ele desapareceu deixando para trás uma nota musical. Senti o chamado puxando-me para sual, em direção à Fenda das Medusas. O Senhor da Água e do Gelo exigia minha presença, eu podia sentir seu toque gélido em meu coração.