[CL] EP Mallory Hale Cooper [Part I]

ssa era a segunda vez que eu deixava Limford. Contudo, essa era a primeira que eu não fazia ideia de quando voltaria. Agora, deixando tudo para trás, eu entendo o quão é difícil fazer escolhas realmente importantes em nossas vidas. Meu apartamento, Roxy, meus pais, Peter, Lara, Martín... Todos eles foram e são tão importantes para minha história, mas agora eu preciso escrevê-la sozinha e lutar para reconquistar aquilo que perdi.

O trem seguiu pela rota submersa. Olhando pela espessa janela de vidro, ainda era possível ver o mar ressacado lá de baixo. O túnel que ligava Limford à Seaquanis era firme e intransponível graças à modernidade presente na cidade subaquática. Por sorte, minha cabine era uma das que possuía janela e, aos poucos, a inspiração foi surgindo ao passo que o tempo da viagem transcorria. Ali, sozinha, eu podia ser quem eu realmente era, cantarolando minha própria canção e sem precisar da aprovação de ninguém. Mantive o celular desligado, justamente por não querer falar com ninguém até que eu estivesse em Atomia, porém, as mensagens de Lara e Roxy não paravam de chegar em minha página no Dexit. Ali eu podia ignorá-las por um tempo. Revisei por diversas vezes o endereço de Lucian para não me perder, visto que ele não fazia ideia de que eu estava indo para lá.


Lucian me lançou um sorriso amarelo ao me ver. Ele não esperava visitas, quase nunca esperava, mas ali estava eu, plantada em frente à sua porta pedindo para entrar. Educado como era, foi o mais hospitalar possível. Porém, minha visita ao singular cientista tinha uma razão tão única quanto ele.

— Então você está fugindo da sua vida para viver outra completamente diferente e inesperada? — indagou o homem.

— Não sei bem se fugir é a palavra certa... — bebi mais um gole demorado do gin. Ele lembrou que é minha favorita.

— Para mim, cara Mallory, é o que parece. — ele fitou a imensa janela de seu apartamento e continuou — Contudo, é compreensível. Acompanhei vagamente o massacre que você recebeu da mídia e, acredite em mim, eu entendo perfeitamente. — ele sorriu.

— Eu posso imaginar o que você passa. Os olhares, os sussurros... São massacrantes e eu não quero mais sentir esse aperto no peito, Lucian.

— Ele sempre vai estar ali, Mallory. Não importa quanto tempo passe, alguém fala, alguém lembra, alguém aponta. Sempre acontece e tudo que você pode fazer é se fortalecer. Apenas.

— E é isso que vou buscar nessa jornada. — bebi mais um gole — Quero finalmente entender melhor Neo Zenos e me entender enquanto artista, sabe? Quero ir ao topo apenas por ir ao topo? Ou quero fazer a diferença?

— Mas para quê tudo isso, Mallory? Pra se cobrar ainda mais? — ele encarou-me — É só para mostrar pra x oy y que você consegue sim ser uma estrela?

— E-Eu não sei direito...

— Pois é bom pensar um pouco mais sobre, decidir exatamente o que você quer e como ser feliz com essa decisão, inclusive com as adversidades.

— Eu quero cantar, Lucian. Eu amo cantar e quero que o mundo todo conheça minha voz.

— A troco de que?

— De fazer as pessoas felizes, de levar esperança para quem precisa.

— Ainda não sinto verdade em suas palavras, Mallory, mas uma hora você vai aprender. Aliás, qual o real motivo de você estar aqui mesmo? — ele sorriu, tentando não parecer grosseiro.

As palavras de Lucian picaram meu coração como uma injeção, ou seja, algo bom e necessário para minha nova jornada de auto aprendizagem. Eu estava empenhada em me entender melhor e a caminhar de uma maneira que me fizesse feliz. Não que trabalhar como produtora na Coconut Music fosse algo ruim, mas não era aquilo o que eu queria para minha vida. Voltando minha atenção ao cientista, conversamos um pouco sobre minha recém evoluída marill que estava apresentando um comportamento estranho nos últimos dias. Lucian sorriu e explicou-me que a minha querida Odeth havia passado por uma grande mudança e, agora, se identificava como macho. Logo, adicionamos Alberth e tudo se resolveu com alegria. Aliás, Winter ficaria definitivamente com Lucian e eu me despedi em seguida. Passaria um bom tempo no próximo trem para Atomia. Lucian me desejou sorte e eu segui de volta à estação.