[CL] REENCONTRO COM A MELODIA

chuva caía incessantemente. Isso não era uma novidade, obviamente, mas posso dizer que essa era uma das coisas que eu menos sentia falta da minha cidade natal. A estação de Limford estava um pouco movimentada naquela manhã, algo que só podíamos ter certeza se olhássemos para o relógio, já que o céu mantinha-se coberto de nuvens. Com óculos escuros grandes, brincos extravagantes e um visual bem provocante, a cada passo eu atraía alguns olhares ao caminhar para fora da estação de trem e não pude conter um sorriso de satisfação.

Ao cruzar as portas da estação, uma brisa fria beijou minhas coxas com um frio não esperado, mas agradável. A saia curta não trazia uma grande proteção aos ventos da cidade, no entanto, uma piranha não sente frio, não é mesmo? Chamei um carro de aplicativo e, no trajeto tranquilo do automóvel suspenso, pude notar os avanços da cidade da chuva constante. Parecia que todas as calçadas da cidade estavam cobertas por belos toldos transparentes, além da presença maior de carros flutuantes. Os bondinhos agora eram pilotados por andróides e tais máquinas pareciam estar bem mais populares agora com a presença dos toldos. Obviamente, Limford não estava tão avançada quanto Atomia, mas tudo parecia estar caminhando para a evolução constante da cidade. Mordi o lábio inferior.

O carro pousou em frente ao novo apartamento que aluguei, visto que vendi o antigo alguns anos atrás. O dinheiro da venda estava rendendo pouco a pouco, então minha reserva monetária estava gorda o suficiente para aguentar cerca de um ano sem emprego ainda. Paguei pelo cashapp da Dexit e entrei no prédio. O lobby era simples, com alguns sofás para visitas e um andróide na recepção. Inclusive, ele foi quem abriu a porta rapidamente, já aguardando minha chegada.

— Seja bem vinda, senhorita Cooper. É um prazer recebê-la.

— Obrigada, err... — apertei os olhos para ler o nome do andróide.

— FR-0041, senhorita. Mas todos me chamam de Beto. — ele pareceu alegre.

— Ah sim, obrigada Beto. As malas estão no carro, pode pegá-las para mim?

— Certamente, senhorita. Pode ir ao balcão preencher os dados que certificarei de checá-los, okay?

Assenti e observei o simpático andróide seguir para o carro que aguardava a retirada da bagagem. Eu não trouxe muitas coisas, então ele logo estaria de volta. Sorri quando o Beto escorregou num musgo e quase derrubou todas as malas, rapidamente recobrando a posição e lançando um laser de calor no musgo recém crescido. Fiquei surpresa. Me dirigi ao balcão e, assim que aproximei minha página da Dexit na tela do computador, minhas informações foram sendo preenchidas.

— Certo. A senhorita possui alguns pokémon, mas nenhum pokémon pode circular pelo prédio, certo?

— Isso não será um problema.

— Qualquer necessidade, os moradores costumam frequentar a praça logo à frente do condomínio vertical para liberar seus pokémon. No entanto, ressalto que muitos podem ser agressivos.

— Não se preocupe, sou uma boa treinadora.

— Estou vendo seus dados e, se eu tivesse alguma emoção, estaria surpreso. — sorri para o andróide — OK, já informei ao síndico da sua chegada e ele estará aqui em breve. Pode aguardar no sofá.

— Obrigada, Beto.

Sentei em um dos sofás imensos do lobby e pude contemplar a chuva caindo sem parar pela janela do lugar. Limford estava mudando rapidamente e, depois de um bom tempo em Atomia, eu me sentia pronta para retormar o que deixei para trás. Com o celular em mãos, retomei a leitura do jornal local. Era importante conhecer meus futuros rivais da seção "Entretenimento" das webzines da cidade. Um coisa era certa, a dexit dos limfordianos estava tomada por contas de fofocas oportunistas e sensacionalistas. Por sorte, niguém pareceu dar conta de minha chegada. Com a cabeça na leitura, nem reparei quando o tal síndico se aproximou, estendendo a mão imediatamente.

— Seja bem vinda, senhorita Cooper. — ele exibia um sorriso simpático.

— Obrigada. — disse ao levantar para cumprimentá-lo.

— Sou Armando Torres, síndico desse belo condomínio vertical. Vou lavá-la ao seu apartamento, pode ser?

— Sim, claro.

— Pois bem, acompanhe-me. Beto ficará encarregado de levar suas malas.

Assenti com um sorriso e segui o homem até meu apartamento. No caminho, ele tratou de repetir as regras do local e a importância de manter a boa convivência e cordialidade com os outros moradores.

— Apartamento 204. Tudo que a senhorita precisa está aqui e lembre-se de sempre chamar o Beto quando precisar.

— Obrigada, senhor Torres.

— Disponha. É um prazer ter uma moradora tão... calorosa.

— Ah sim, claro.

— Espero que não seja um incômodo, mas poderíamos tirar uma foto? — ele sacou o celular rapidamente.

— Err, claro. — eu não estava disposta à foto alguma, mas não custava nada, não é mesmo?

Após isso, o senhor Torres me deixou sozinha no apartamento. Beto deixou as malas alguns minutos antes da saída do síndico, mas eu não me preocuparia com elas tão cedo. Abri a janela da sala, deixando o o vento frio e úmido percorrer todo o ambiente. Sorri quando a umidade acariciou minha pele no meu novo lar. Era um novo começo para mim e eu faria tudo ao meu alcance para dar certo. Na Dexit, postei a primeira foto em muitos meses.