[CM] Roar - Chapter.2

Lançamento do Dado escreveu:

• 19/04/2020 - Lançamento AQUI
  

Cheguei mais perto do alvoroço que tava acontecendo numa das ruas principais do centro. Olhei pra cima e vi um anúncio de alguma celebridade; um garoto riquinho, cabelos negros e pele branca. No anúncio ele tava vestido com roupa da moda e cheio de patrocínio de outras empresas menores estampado em seu estilo. Ele falava alguma coisa sobre o que ele faz e o que ele gosta, e no meio disso aparecia um vídeo dele brincando com um pokémon que era tipo um gatinho azul com rabinho de estrela. Tá, blz.

Do nada começou a passar o mesmo anúncio em vários outros telões. Foi tipo uma febre, se espalhou e começou a afetar todo mundo, por isso aquele alvoroço. Voltei a olhar pra rua e percebi uma correria em diversos pontos. A maioria eram garotos jovens, saltando por lixeiras ou esbarrando em gente nova como eu, tudo com um único propósito; correr atrás de gatinhos como aquele do anúncio. E tipo, quando eu entendi isso eu fiquei muito desapontado, na moral.

— Que porra foi essa??? — aquilo não saía da minha cabeça. Eu ficava revivendo a imagem daqueles novinho correndo que nem retardado atrás do tal gatinho azul, enquanto todo mundo ignorava real o que tava rolando.

Segui meu rumo, passei por um monte de lojas menores que também estavam transbordando em anúncios e propagandas do mesmo tipo. Esbarrei com gente nova, troquei um papo, e no meio disso ouvi uma conversa ou outra sobre o tal garoto riquinho do anúncio. Ele tava em todo lugar velho! Isso começou a me irritar. Daí descobri que o nome do moleque era Izaya. Chamam o tipo dele por aqui de Influencer Digital, tipo um garoto propaganda como eu, só que riquinho e que lança tendências em cima de um monte de merda tipo caçar um gato azul que nem retardado.

— Não acredito que pagam ele pra isso, tsc! — mordi o lábio e continuei andando.

Só que no meio da minha caminhada, recebi mais umas três ou quatro mensagens seguidas no meu canal de transmissão privado. Aquilo me deixou distraído e eu fui revisando os detalhes por traz das mensagens enquanto andava, sem reparar muito no que acontecia ao meu redor. Nisso eu tropecei em alguma coisa e bati com a cara num desses outdoors baixinhos. Quer dizer, não era tão baixo, eu que sou um pouco alto, então minha testa bateu com tudo na placa. O negócio me deu um choque e eu fiquei meio zonzo, mas assim que me recuperei já virei pra traz com tudo, pronto pra descer um chutão naquilo que eu tropecei.

— Seu porr- — só que quando eu já tava engatando a bicuda, eu vi que era o tal do gato azul.

Ele também ficou meio zonzo porque parece que tropecei chutando a cabeça dele enquanto andava. O bichinho logo se recuperou também e olhou pra mim com cara de bravo, tentando mostrar os dentinhos que eram tão pequenos que dava até graça. Eu naquela pose meio estranha quase metendo um chute nele, consegui me conter e voltar ao normal. Sorte que tenho uma programação de reflexos muito boa, senão o bichinho já tava estatelado lá em cima, depois de levar meu chutão.

— Foi mal, bebê. Não vi você, tsc. — resmunguei meio de lado e virei a cara.

S-6H logo apareceu, ainda meio aéreo e passando bem devagar por cima de onde tava o gatinho. Foi só o bicho ver o Shedinja flutuando que achou graça e começou a brincar com ele. Balançou a bundinha e ficou fazendo pose como se quisesse pular pra tentar alcançar o Shedinja. Tentou uma, duas, até três vezes, mas desistiu quando viu que não conseguia ir tão alto. Daí sentou e ficou balançando o rabo, impaciente, esperando alguma brecha no jeito que o Shedinja flutuava pra tentar pegar ele. E enquanto isso eu fui analisando o bichinho através do meu aplicativo de Pokedex embutido. Só assim pra eu descobrir que o bichinho era um Shinx.

— Ei, tiozão! Larga esse gato! Ele é meu! — gritou uma voz lá de cima.

Olhei pra cima já puto por ser chamado de tiozão e vi que era um daqueles novinho que tavam atrás dos gato azul só por causa do influencer lá. Fechei a cara e ignorei o que o moleque disse, agachei e fiz com a mão que tava brincando com o gatinho. O Shinx logo se distraiu do Shedinja e ficou entretido com meu dedo indicador, puxando suas duas patinhas e tentando morder. Daí escutei um barulho vindo lá de cima, uma coisa enferrujada descendo, metal batendo e tal. Olhei pra cima de novo e vi que eram escadarias dessas que são laterais nos prédios grandes, pro pessoal descer pela janela e tal. E dali vinha aquele moleque e mais uns guri, tipo uns 3.

— Mas que filho da puta! — bravejei, já ficando sem saco, — Bora neném, tá afim de um rolê? — e peguei o gatinho no colo, aninhando ele entre o meu braço e meu casaco.

O bichinho não era arisco, mas era valente, ficou no meu braço se achando um monstro, mordendo meu casaco e tentando mostrar que eu não era páreo pra ele. Um fofo. Só que eu tava de saco cheio dos babacão atrás do bicho e decidi que ia curtir um pouco com eles. Disparei correndo no meio da multidão, me escondendo entre os anúncios e a movimentação da rua. Tava na hora de bagunçar um pouco isso aqui...

Lançamento do Dado escreveu:

• 19/04/2020 - Lançamento AQUI
  

No meio da correria eu aproveitei pra ficar on-line nas linhas de transmissão pública. Um monte de informação invadiu meu sistema e eu quase entrei em pane se já não tivesse drivers específicos pra lidar com quantidades massivas de informação como dessa vez. Daí as coisas foram se organizando em segundo plano enquanto eu dava prioridade pra fugir dos moleques e me esconder na multidão.

O gatinho no meu colo começou a se divertir com a correria e parou de me arranhar. Mordeu um pedaço da minha blusa e aquilo ajudou ele a se equilibrar. Daí ficou com os olhinhos atentos pra tudo que aparecia na nossa frente, e mano, quanta coisa tem nessa cidade! Um monte de pop-up de anúncios aparecendo o tempo inteiro, em todo lugar. Na frente de todas as lojas pelo menos uns 3 anúncios ou propagandas. Placas e outdoors por todo lado, a rede aqui era uma doidera se comparado com a da minha cidade. E ainda assim, a conexão era das melhores.

— Carai, o tiozão corre muito! Como a gente vai pegar ele!? — gritou um dos guri depois de bater com tudo numa bicicleta estacionada em frente a uma loja que passamos.

Os outros dois continuaram no mesmo ritmo, nenhum respondeu. Ainda assim, identifiquei meio de longe que eles ativaram algum dispositivo através do celular. Consegui notar um pacote de dados sendo enviado pra algum lugar e na sequência os sapatos deles brilharam, recebendo impulso. Do nada os guri dispararam com uma luz neon de rastro, e em poucos passos eles tavam na minha cola já.

— Porra! — rangendo os dentes, precisei agilizar o trabalho em segundo plano ou eles iriam me alcançar, — S-6H, atrasa eles! — bravei.

O Shedinja recebeu o comando e parece que leu minha mente, porque na mesma hora ele aproveitou um banner digital que apareceu em pop-up no meio da rua e conduziu alguns dos dados pra trás com um Sand-Attack. Foi um lance muito rápido, tipo o que ele fazia quando absorvia informações e depois codificava. Só que dessa vez ele comprimiu os dados que eu codifiquei pra agilizar o processo, e desfragmentou uma parte do banner em uma chuva de "pixels".

O movimento deu certo e eu olhei pra traz vendo que um dos garotos se assustou e desviou das luzes, mas bateu com tudo num poste. Daí sobrou só um, aquele mesmo que me chamou de tiozão ainda lá atrás, no alto do prédio. Ele conseguia fazer umas acrobacias, então eu entendi que eles tavam acostumados a usar aquele lance nos sapatos e tal. Deve ser algum esporte famosinho entre os moleques riquinhos dessa cidade. Eu não tinha como competir com aquilo, e não queria hackear o sistema dele só pra bagunçar isso. Daria muito trabalho. A opção que restou foi levar ele pra um canto onde a gente pudesse resolver isso sem alarde.

Nas informações que coletei na rede, consegui me situar num mapa da cidade e encontrei um beco perto de onde a gente tava. Saí da multidão e peguei o beco, que levou a gente pra um lugar sem saída e com pouca iluminação. Também não tinha ninguém por lá, o que me ajudou bastante, já que agora era só eu e ele. E o moleque não demorou pra chegar.

— Qual foi tiozão? Passa o gatinho pra cá! Eu não quero te machucar... — o garoto chegou cheio de marra.

Ele tava vestindo uns tênis de marca, um lance cheio de tecnologia embutido, com aquele rastro neon que dava impulso e equilíbrio. Tinha também uma bermuda escura, bem apertada, com cinto e um monte de bugiganga de rico e uns chaveiros. Por cima usava uma camisa preta regata com símbolo de alguma empresa de games, mas que era cortada na altura da barriga, deixando o umbigo com 3 piercings a mostra. O casaco de marca, azul marinho e cheio de logotipos de outras empresas só deixou claro pra mim que ele era outro influencer e provavelmente tava tentando ganhar fama em cima do anúncio do outro lá.

— Cheio de marra heim guri? — falei com um sorriso no rosto, — Só que não vai rolar, saka? Curti o gatinho, vou ficar com ele.— insisti, provocando o garoto.

Ele devia ter uns 16 anos ou algo assim. Lembrava bastante o Joshua, filho do dono do bar que eu frequentava, só que mais riquinho e cheio de marra e atitude. Eu vi nos olhos dele quando ele se emputeceu com o que eu falei e fechou o punho com vontade de me socar. Só que eu era muito maior que ele e ele não tinha chances.

— E ai, qual vai ser? — provoquei mais uma vez, fazendo carinho no Shinx ainda no meu colo.

O moleque não ficou contente e sacou uma pokebola daquele cinto cheio de chaveiro e quinquilharia. A pokebola era diferente da que eu conhecia, provavelmente uma dessas mais caras e luxuosas. Ele apertou o botão e jogou o bicho que tinha dentro ali no meio do beco. A luz chamou atenção pro formato do bicho que era tipo um morcego orelhudo e bonitinho.

— Zhask, manda esse velho pro chão com um Air Sl- — o menino enrolava demais até pra dar um comando pro pokemon e eu tava sem paciência então não demorou pro meu Shedinja acertar um Shadow Ball na cara do morcego que voou com tudo numa das paredes do beco e rodopiou meio tonto.

— Lerdo demais, cê é loko, ainda tem coragem de me chamar de tiozão? — zoei o moleque.

— Escroto! Cê tá me atrapalhando, sai fora! — o guri perdeu a paciência e no desespero jogou uma pokebola com tudo na minha direção.

Aquilo me surpreendeu. Até que foi inteligente pra ele? Eu não tinha capturado o gatinho, então se ele capturasse agora, não ia precisar discutir comigo nem nada. Pena que ele é só um garoto lerdo. A pokebola dele veio voando na minha direção e eu desci uma bicuda nela, jogando a esfera de volta direto na cabeça do garoto. Os olhos do menino viraram e ele desmaiou com a marca da pokebola na testa. O morcego dele logo veio acudir, mas eu ignorei e fui andando até ele bem devagar.

— Cê tem que tomar mais cuidado, guri. Não é todo tiozão que vai te deixar só desacordado aqui não. Cê ainda tem muito que aprender. — e depois disso levantei o garoto com o braço livre, apoiando ele nas minhas costas. Tentei deixar o Noibat dele tranquilo, avisando que eu só queria ajudar.

Daí no caminho fui verificando no sistema sobre as informações do garoto. Descobri onde ele morava e também que as minhas suspeitas sobre ele ser um influencer serem verdadeiras. Até por conta disso, decidi ir por um caminho menos movimentado e que chamasse menos atenção, assim eu pude levar ele até a casa dele e deixar ele lá desacordado mas em segurança. Fechei a janela, desci pelas escadas, e pronto. Problema resolvido.

— Ufa. Que rolê foi esse heim?! — falei descontraído, abraçando o gatinho e fazendo carinho na barriga dele— Só que agora ta na hora de tu se mandar. — botei ele no chão e dei uma piscadinha.

Só que o gatinho não ficou satisfeito. Fechou a cara e ficou rosnando pra mim, já em pose de batalha. Ah mano, como eu ia resistir?

Lançamento do Dado escreveu:

• 19/04/2020 - Lançamento AQUI
  

A batalha começou e o bichinho parecia aprender rápido, já que ele não esperou nem eu falar nada e já partiu pro ataque. Veio correndo meio desajeitado mas ainda assim com intenção de se jogar numa investida contra o meu Shedinja. Daí eu entendi, ele já tava querendo isso desde a hora que conheceu o S-6H.

— Confuse Ray, vai! — ordenei cheio de entusiasmo.

Apesar de ser uma encenação, eu queria que o bichinho sentisse que ta numa batalha de verdade. Poxa, ele era tão bonitinho se fazendo de valente e tudo. Pena que ele não tinha muita habilidade. O Tackle dele não tinha efeito nenhum no meu pokemon, daí o gato azul passou batido pelo corpo do Shedinja como se aquilo fosse só um holograma. Tá, ele não conhece muito sobre o tipo fantasma, então eu vou relevar.

O Shedinja acertou um Confuse Ray no gatinho, deixando ele ainda mais tonto e fazendo ele tropeçar em si mesmo. O Shinx rolou umas três cambalhotas até bater num caixote de entrega perto de uma loja. Por sorte ele era tão pequeno que nem quebrou nada. Mas o que tinha de pequeno, tinha de insistente. Levantou mesmo tonto e veio correndo pra uma outra investida. Só que dessa vez eu percebi umas faíscas elétricas se formando ao redor do corpo dele. Identifiquei um Spark, então.

— S-6H, tenta enfraquecer ele um pouco com o Absorb, valeu?— dessa vez o comando foi mais cuidadoso.

Pelos meus cálculos o gatinho ia errar o ataque e bater de cara com tudo num poste que estava um pouco atrás do Shedinja. Então eu fui andando até um pouco atrás do meu parceiro e esperei o gatinho vir na sua investida. O Shedinja desviou enquanto puxava a energia do gatinho bem devagar, enfraquecendo também o movimento do Shinx e fazendo ele rolar meio fraco. O Gatinho caiu no chão, rolou mais duas vezes e antes de bater de cara no poste, eu o peguei pelo braço. As faíscas me fizeram cócegas, mas nada muito agressivo.

— Beleza, acho que já deu. — peguei uma pokebola reserva no bolso da calça e toquei de leve na cabeça do gatinho, tentando a captura.

Lançamento da Captura escreveu:

• 19/04/2020 - Lançamento AQUI
  

— Opa! — a pokebola balançou por alguns segundos depois parou com um brilho verde, — Até que não foi difícil.. — terminei meio surpreso com o resultado.

O bichinho devia estar cansado, então resolvi deixar ele quietinho na pokebola. Outra hora eu libero ele e explico melhor a situação e tal. Agradeci ao Shedinja pelo esforço na batalha e por me ajudar mais cedo na brincadeira com aqueles moleques da cidade. E no fim até que tive uma experiência legal pra um primeiro dia. Eu tava satisfeito, vai.

Ou pelo menos, até agora...

— Ai! Não é ele? O cara do cabelo azul? — comecei a ouvir uns comentários aqui e ali, — É ele sim! Ele também pegou um dos gatos azuis! Aposto que deve seguir o Izaya no Dexit! — falou um dos garotos.

Não que eu tenha ficado famoso do nada. Mas eu reparei que o lance era de momento mesmo. Como a propaganda tinha sido recente, meio que estourou ali naquele bairro e todo mundo queria ganhar atenção só por fazer o mesmo que o influencer lá fazia na propaganda. Sorte que eles não sabiam meu nome, então fiquei na boca da galera como o cara do cabelo azul. Eu mereço...

— IZAAAAYAAAAAA! — gritei, todo frustrado.